quarta-feira, 8 de março de 2017

Caso Fessler, transcrição do julgamento - parte 2

Salão do Reino de Spring Grove, Pensilvânia
Ancião confessa: aprendi sobre o privilégio do clero pela televisão.


(Traduzido de JW Survey) Era uma escaldante manhã de verão em Reading, Pensilvânia. Após cruzar os trilhos da estrada de ferro, eu estava em Penn Street; à mão café, minha pasta e almoço em caixa.


A poucos passos do Sovereign Convention Center, algo me chamou a atenção. Na esquina da Penn com a 7ª avenida, um homem solitário permanecia em silêncio com um grande cartaz que dizia: "Um ancião das Testemunha de Jeová me molestou".

Eram oito e meia da manhã. Milhares de Testemunhas de Jeová, usando crachás de congresso, entravam pela entrada principal passando por este homem como se ele fosse invisível.

Seu sinal proclamou calmamente que ele havia sofrido uma grande injustiça, mas ninguém parou. Ninguém parecia se importar; suas mentes estavam intensamente focadas em entrar no edifício com ar-condicionado, para escapar do intenso calor que fazia do lado de fora.

Eu não lembro que roupa eu usava naquele dia. Não lembro qual restaurante fui naquela noite. Não lembro em que hotel fiquei hospedado. Mas eu me lembro daquele homem com a placa.

Sua presença me deixou espantado. Por que ele estava lá? Por que ninguém iria falar com ele? O que ele tinha feito de errado? Por que ele foi tratado como um homem com lepra?

Enquanto isso, não muito longe dali uma jovem chamada Stephanie Fessler estava sendo abusada por uma mulher Testemunha de Jeová, que tinha mais de três vezes a sua idade. Quando o relacionamento foi descoberto, os anciãos das congregações de dois estados foram informados. Estes anciãos contataram o seu departamento jurídico em Patterson, Nova York. Os anciãos, em particular, repreenderam publicamente tanto Stephanie, quanto sua agressora, Terry Monheim. A polícia nunca foi notificada. Os serviços de proteção à criança nunca foram informados. Os pais de Fessler ficaram divididos entre proteger a sua religião ou fazer a coisa certa. O pai de Stephanie, Kevin Fessler, era um ancião. Infelizmente, ninguém fez a coisa certa.

Sete anos depois, Stephanie Fessler, aos 22 anos, tomou coragem de contar sua história à polícia. Como resultado, Monheim foi presa, declarou-se culpada de múltiplas acusações, e foi condenada à prisão e liberdade condicional. Monheim foi colocada na lista deMegan.

Infelizmente, o dano foi feito. A angústia mental, a destruição de uma infância, a falta de proteção de seus próprios pais e anciãos da congregação deixaram Stephanie Fessler traumatizada e permanentemente ferida. A menos que você seja uma vítima de abuso sexual na infância, você nunca pode entender completamente o que ela passou.

Stephanie não queria ver isso acontecer a mais ninguém. Os anciãos das Testemunhas de Jeová junto com suas corporações dirigentes, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Nova York e a Congregação Cristã das Testemunhas de Jeová, foram notificadas para um julgamento civil que começou em 7 de fevereiro de 2017.

Conforme divulgado pelo JWSurvey, em 13 de fevereiro, as corporações das Testemunhas, juntamente com a Congregação das Testemunhas de Jeová de Spring Grove, chegaram a um acordo financeiro com Fessler após apenas quatro dias de depoimento.

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Usando a própria linguagem da Torre de Vigia, o advogado de Fessler, Jeffrey Fritz, declarou: "O caso com as Testemunhas de Jeová foi resolvido".

Julgamento, Dia 2:  #1 - Eric Hoffman

É difícil entender o que é pior - um velho molestando uma criança pequena, ou um grupo inteiro de anciãos tomando ciência de uma acusação, mas ignorando sua responsabilidade de informar às autoridades e obter ajuda para uma vítima. Enquanto eu estava sentado na cadeira de madeira desajeitada na Câmara Municipal de Filadélfia, essa pergunta ficou em minha mente. Minha ponderação foi interrompida às 13h15, quando o ancião de Spring Grove, Eric Hoffman, entrou na sala e fez o juramento com o oficial da corte.

O advogado da Sra. Fessler, Gregg Zeff, não perdeu tempo em questionar o Sr. Hoffman, e começou inquirindo-o sobre sua posição como ancião das Testemunhas de Jeová. Hoffman é um ancião desde 1994.

Zeff: Um ancião é um membro do clero?

Hoffman: Nós não somos rotulados de clero. Nós não somos pagos.

Apesar da negação de que os anciãos são clérigos, Zeff continua seu questionamento:

Zeff: Senhor, você concorda que o clero deve denunciar abuso sexual de crianças para proteger a vítima de dano adicional?

Hoffman: Sim.

Zeff: Você concorda que o clero nunca pode manter a agressão sexual de uma criança em segredo com o objetivo de proteger a congregação?

Hoffman: Sim

Zeff: Você não tem nenhum treinamento em entrevistar crianças que são vítimas de abuso sexual, não é?

Hoffman: Não.

Como nossos leitores podem se lembrar de nosso artigo anterior sobre este caso, o representante da Torre de Vigia Thomas Jefferson testemunhou por dois dias consecutivos que os anciãos das Testemunhas de Jeová não são clérigos, com a implicação de que as leis que se aplicam aos membros do clero não se aplicam aos anciãos das Testemunhas. O Sr. Hoffman confirmou essa afirmação. Zeff começou uma nova linha de perguntas relacionadas à exigência estrita dos anciãos de seguir a direção de suas sedes corporativas ou enfrentar consequências:

Zeff: Você recebeu as cartas da Torre de Vigia, não é?

Hoffman: Sim, isso consta nas cartas oficiais, correto
.
Zeff: E você confia nessas cartas de instrução da Torre de Vigia para executar seus deveres como ancião, não confia?

Hoffman: Sim, nós confiamos.

Zeff: Ok Se você não seguir as cartas de instrução, a Torre de Vigia poderá removê-lo como ancião; não é verdade?

Hoffman: Eles poderiam, sim.

Zeff: E a Torre de Vigia dirige a atividade dos anciãos, não é?

Hoffman: Nós recebemos orientação deles, correto.

Zeff: Você não recebe orientação de mais ninguém, não é?

Hoffman: Não.

Depois de confirmar que Hoffman recebeu suas instruções para atividade diretamente da Torre de Vigia, Zeff fez uma pergunta crítica que revelou que Hoffman estava bem ciente da alegação de abuso de crianças:

Zeff: No outono de 2005, você sabia que havia suspeita de abuso infantil envolvendo Stephanie Fessler, não sabia?

Hoffman: No outono de 2005?

Zeff: Sim

Hoffman: Sim.

Zeff: Ok. E você, junto com Neal Cluck, que era outro ancião, soube disso e uma comissão foi formada, não foi?

Hoffman: Eu suponho; sim, foi.

Zeff: Ok. E você não se lembra de nada específico que o pai ou a mãe de Stephanie lhe disseram, não é?

Hoffman: Não, não lembro.

Zeff: Ok Durante a primeira comissão... você teve duas comissões, não?

Hoffman: Sim.

Zeff: Ok. Então você realmente não se lembra quando foi a primeira comissão?

Hoffman: Segundo minhas anotações, a primeira comissão foi no final de setembro de 2005.

Zeff: OK. Bem, de que anotações você está falando, senhor?

Hoffman: Tínhamos algumas anotações escritas.

Zeff: Vamos ver essas anotações.

Neste ponto, o advogado Zeff pediu que as anotações de Eric Hoffman fossem projetadas no telão para o júri. Como afirmado pela defesa nos argumentos iniciais, a Torre de Vigia esperava que os anciãos testemunhassem que não tinham nenhum conhecimento real de qualquer relação física ou sexual entre Fessler e Seipp [Monheim] em 2004, e que não souberam do relacionamento até 2005.

Zeff: E você sabe que aguardamos que Stephanie Fessler e Terry Seipp testemunhem que ambos foram censuradas e disciplinadas em 2004?

Hoffman: Não, eu não sei.

Zeff: Ok. Então, quando você diz que teve duas comissões, tem certeza de que sua primeira comissão ocorreu em 2005, em vez de 2004?

Hoffman: Sim, tenho certeza.

Zeff pressiona Hoffman mais ainda:

Zeff: Você está ciente de que Jodee Fessler testemunhou ou vai testemunhar  que a primeira comissão ocorreu em 2004?

Hoffman: Pode ser, mas não tenho anotações e não me lembro de nenhuma reunião em 2004.

Hoffman começa a fraquejar, sua memória de repente torna-se confusa:

Zeff: Então, é possível que tenha acontecido?

Hoffman: Poderia ser, mas eu não me lembro de nada sobre isso.

Zeff: Ok. E a segunda comissão, a comissão que aconteceu em 2005, você tem anotações?

Hoffman: Sim, tenho.

Zeff: Então, se Stephanie Fessler, Jodee Fessler e Terry Seipp testemunharam que eles estavam envolvidos com comissões judicativas em 2004, você não teria nenhuma razão para duvidar delas, teria?

Hoffman: Sim, porque não há anotações de uma comissão judicativa em 2004.

Zeff: Bem, não te disseram para destruir quaisquer anotações desnecessárias?

Hoffman: As únicas anotações que eu tenho são o que estão lá.

Hoffman, claramente chocado com a enxurrada de perguntas, é incapaz de se lembrar da política da Torre deVigia relacionada ao que eles podem e não podem destruir; então Zeff foca no único ponto que fica claro para o júri: Hoffman sabia que Stephanie estava sendo abusada.

Zeff: Então, em 2005, pelo menos, você foi informado de que uma menina de 16 anos estava saindo com uma mulher de 50?

Hoffman: Correto.

Zeff: Ok. Você estava desconfiado, nessa época, que isso poderia ser um abuso infantil, não estava?

Hoffman: Estávamos desconfiados que algo estava acontecendo que não deveria acontecer.

Enquanto Hoffman se esquivava de admitir que se tratava de uma relação sexual, Zeff refaz a questão de uma maneira um pouco diferente:

Zeff: Foi explicado que elas estavam se beijando romanticamente?

Hoffman: Certo.

Zeff: Assim como fazem namorado e namorada, certo?

Hoffman: Hã-hãm.

Zeff: Assim como fazem marido e esposa, certo?

Hoffman: Certo.

Zeff: E você não achou isso suspeito de ser abuso infantil?

Hoffman: Bem, é por isso que formamos a comissão então.

Zeff: Ok. Então, você formou uma comissão por que você estava desconfiado?

Hoffman: Porque estávamos desconfiados.

O testemunho de Hoffman fluía como um problema de matemática onde várias equações diferentes apontavam para a mesma resposta indiscutível. Mas havia mais pontos envolvidos, e o advogado Zeff os trouxe para a equação:

Zeff: Quando você formou a comissão, você entrou em contato com a Torre de Vigia para tratar disso?

Hoffman: Entrei em contato com o departamento jurídico.

Zeff: Ok. Bem, isso é depois que você soube do que ocorreu. Mas na formação da comissão, você procurou qualquer orientação de qualquer pessoa sobre o que você devia fazer e como você devia fazer perguntas?

Hoffman: Não.

O advogado Zeff aponta a seguir inconsistências no depoimento anterior de Hoffman quando foi interrogado antes do julgamento, mas como Hoffman não fornece uma recordação concisa de seu depoimento, Zeff diz finalmente ao tribunal: "Seguirei em frente, Meritíssima” Em vez de quietamente aceitar esta declaração, advogado da Congregação de Spring Grove, Jud Arron, comete o erro de brincar com a corte:

Aaron: Nenhuma objeção [irônico].

Juiz Mary C. Collins: Não. Basta! Eu não quero nenhuma ironia, nenhum comentário desnecessário ou irrelevante de qualquer advogado que participa neste julgamento.

Jud Aaron, envergonhado e de rosto vermelho, pede desculpas à juíza e ao tribunal.

Zeff faz com que Hoffman admita que consultou as cartas aos anciãos e o manual dos anciãos ao atuar no caso de Fessler, e depois diz:

Zeff: Além de beijos e carícias, Stephanie Fessler disse que houve algum abraço impróprio, não disse?

Hoffman: Sim:

Zeff: E que houve toque nos seios?

Hoffman: Sim.

Na sequência destas perguntas, Zeff pede a Hoffman para ler suas anotações da comissão judicativa de Spring Grove, em 2005, onde, entre outros detalhes, Hoffman escreveu:

"Mais tarde foi dito durante a comissão que houve toque nos seios por mais de uma vez".

Zeff: Você estava preocupado que havia uma mulher de 50 anos em outra congregação que estava acariciando e tocando os seios de alguém de 16 anos?

Hoffman: Nós estávamos preocupados.

Zeff: Ok. Você avisou alguém sobre isso?

Hoffman: Só falei com a Stephanie.

Zeff: Ok. Você não disse à outra congregação que, segundo Stephanie, os seios delas foram tocados e que ela estava saindo com uma mulher de 50 anos?

Hoffman: Eu acho que tivemos uma conversa com eles apenas para ter certeza de que as histórias eram as mesmas.

Zeff: Você notificou a Torre de Vigia sobre isso?

Hoffman: Sim. Comunicamos ao departamento jurídico.

As tensões aumentaram quando o testemunho de Hoffman mostrou claramente que os anciãos de duas congregações ficaram cientes do abuso, que a relação era indiscutível e que a Torre de Vigia também estava informada sobre isso. Foi revelado ainda que enquanto tudo isso estava acontecendo, Dona, o marido de Terry Seipp [Monheim], tinha contratado um deteve particular para seguir Terry, suspeitando do que sua esposa estava fazendo.

De repente, em um movimento desesperado, o advogado da Torre de Vigia John Miller corta e pede uma conversa paralela com a juíza:

Miller: Sinto muito, Meritíssima, isso já foi determinado. Espero que não seja tarde demais para perguntar, mas, a menos que isso esteja violando o privilégio do advogado / cliente, esse é o formato que você seguiu, é a instrução que você recebeu do departamento jurídico. Isso é pedir assistência jurídica.

Zeff: Juíza, isso foi dispensado. Foi perguntado em depoimento e respondido. Estas perguntas foram feitas. Elas foram respondidas em depoimento. Você não pode virar-se depois de não requerer o privilégio e virar-se e requerer o privilégio no julgamento, quando já abriu mão dele. Há uma abundância de jurisprudência sobre isso.

Miller: Nós não levantamos naquele momento?

Zeff: Não. Nunca se levantaram. Posso mostrar-lhe as páginas 19, 20, 21, 23 do depoimento.

Miller: Eu vou confiar em você, se você diz.

Zeff: Aqui estão os depoimentos - onde consta que se manifestaram?

Miller: Então, nós deixamos passar a oportunidade. Bem, então, estou te fazendo perder tempo.

Juiza Collins: Está bem; vamos voltar.

O advogado de Fessler, Zeff, não deixou pedra sobre pedra, e pressionou Hoffman ainda mais.

Zeff: A razão pela qual entrou em contato com o departamento jurídico foi para tentar descobrir quais eram suas obrigações em relatar o abuso sexual. Isso não é correto?

Hoffman: Sim.

Zeff: E depois que você falou com o departamento jurídico, você não relatou o abuso sexual a nenhuma autoridade na Pensilvânia, não é?

Hoffman: Nós não relatamos à polícia, não.

Zeff: Você nunca recebeu nenhuma instrução de que havia alguma autoridade legal na Pensilvânia para denunciar suspeita de abuso de criança, não é?

Hoffman: Não.

Zeff: E você não disse aos pais de Stephanie Fessler que eles poderiam ir à polícia, não é?

Hoffman: Nós não podemos fazê-lo; não.

Zeff: Ok. Você năo o fez. Obrigado. Não tenho mais nada a perguntar.

Zeff, satisfeito por ter extraído suficiente veracidade de Hoffman, cedeu a testemunha para Jud Aaron , o advogado contratado pela congregação de Spring Grove. Aaron passa a discutir o depoimento anterior de Hoffman, no qual Thomas Jefferson foi mencionado - com pouco efeito; então pergunta a Hoffman sobre sua posição como ancião, e faz Hoffman descrever a simplicidade de um típico Salão do Reino.

No diálogo entre Aaron de Hoffman, é de interessante que foi mencionado que os pais de Stephanie vieram a Hoffman em 2005, à procura de ajuda, tendo em vista a sua posição como ancião ordenado das Testemunhas de Jeová. Neste ponto do julgamento, isso é uma consequência, já que Hoffman e a Torre de Vigia ainda estavam reivindicando, no segundo dia do julgamento, que os anciãos não eram membros do clero. Parece que ele estava argumentando que, se Hoffman não fosse um clérigo, então ele não teria nenhuma obrigação de relatar o relacionamento à polícia.

Aaron: Eles estavam [os Fessler] chegando a você como ancião?

Hoffman: Sim.

Aaron: Ok. Eles te disseram que Stephanie Fessler e Terry Seipp estavam tendo algum tipo de relacionamento?

Hoffman: É assim que me lembro, um tipo de relacionamento, correto.

Aaron: E o que você esperava poder fazer? O que você fez como ancião?

Hoffman: A primeira vez que nos encontramos com Stephanie, foi apenas para determinar o que estava acontecendo; visava dar-lhe alguma ajuda bíblica, alguns conselhos para ajudá-la a mudar seu comportamento e para descobrir o que estava acontecendo.

Aaron: De modo geral, o que você quer dizer com "ajuda bíblica"?

Hoffman: Eu apenas mostrei-lhe alguns textos bíblicos, algumas que reprovavam o tipo de conduta que ela estava levando, que estava indo contra os princípios bíblicos e como ajuda-la ir contra isso.

Jud Aaron, em seguida, faz com que Hoffman testemunhe que em 2005, os Fesslers nunca lhe disseram que havia relação sexual entre Stephanie e Terry. Este era claramente um conflito dado que seria um tanto incomum que os pais de Fessler procurassem a ajuda dos anciãos se a relação era algo rotineiro, do tipo mãe-filha. Aaron tenta provar que Hoffman não sabia nada até que pessoalmente confrontou Stephanie em 2005.

Aaron: Você disse que conheceu Stephanie no outono de 2005?

Hoffman: Sim.

Aaron: Ok. Você tentou determinar qual era a natureza da relação?

Hoffman: Sim, nós tentamos.

Aaron: Você tentou determinar se era ou não sexual?

Hoffman: Sim, procuramos determinar isso.

Aaron: E durante o encontro com Miss Fessler no outono de 2005, você descobriu que houve algum contato sexual entre elas?

Hoffman: Sim, descobrimos.

É de interesse que Aaron questiona Hoffman sobre se ele havia perguntado à vítima se ela ficara nua com Monheim, ou se tinha participado de sexo oral. Inacreditavelmente, Hoffman afirma que ele não tinha informações sobre qualquer toque nos órgãos genitais, ou se as duas ficaram nuas juntas, apesar de ter testemunhado que ele sabia que havia uma relação sexual contínua.

Aaron retorna mais uma vez a seu argumento de 2004, desta vez fazendo uma pergunta hipotética:

Aaron: Se, um ano antes, 2004 - estou perguntando sobre o que você faria agora – se um ano antes, em 2004, uma garota de 15 anos de idade tinha dito que ela e uma mulher de 49 ou 50 anos estavam envolvidas em um relacionamento que envolvia beijos íntimos, beijos de língua, beijos franceses, beijos românticos, como você quiser chamá-lo, você faria contato com o departamento jurídico para pedir orientação?

Hoffman: Sim, nós contataríamos.

Aaron: Ok. Você tem alguma lembrança de fazê-lo um ano antes, no outono de 2004?

Hoffman: Não.

Aaron: Bem, deixe-me perguntar sobre você. Você já disse ao Sr. e à Sra. Fessler que eles não deveriam relatar esse relacionamento às autoridades?

Hoffman: Não.

Aaron decide concluir seu questionamento da testemunha, e cede a palavra. John Miller, da Torre de Vigia, não tem perguntas para o Sr. Hoffman, e redireciona-a para o Sr. Zeff.

Zeff: Você teve uma memória específica, sentado aqui hoje; depois de dez, onze, onze anos e meio, você se lembrou que perguntou a Stephanie Fessler  se houve sexo oral ou não?

Hoffman: Bem, de acordo com minhas anotações, perguntamos a ela se havia algo mais envolvido e ela disse que não.

Zeff: Está bem. Então, você perguntou se havia algo mais envolvido?

Hoffman: Exato.

Zeff: Você não perguntou se ela tinha sexo oral. Você não perguntou se ela ficara nua?

Hoffman: Não, nós não podemos perguntar.

Zeff: E você considera acariciar e tocar os seios como um ato sexual?

Hoffman: Sim.

Zeff: E quando você entrou em contato com o departamento jurídico, você realmente não sabia o que fazer nessa situação, não é?

Hoffman: Correto.

Zeff: E você confiou no departamento jurídico?

Hoffman: Sim, nós confiamos.

Zeff: E o departamento jurídico faz parte da Torre de Vigia?

Hoffman: Sim.

Zeff: Ok. Se o departamento jurídico lhe dissesse para relatar o assunto, você teria feito isso?

Hoffman: Sim, nós faríamos.

Zeff conclui seu interrogatório pedindo a Hoffman que explique a repreensão pública que os anciãos aplicaram a Stephanie Fessler; depois volta a testemunha uma última vez para a defesa. Desta vez, Sr, Miller, o advogado da Torre de Vigia, decide fazer uma pergunta ao Sr. Hoffman:

Miller: Sr. Hoffman, apenas uma pergunta: você disse que o departamento jurídico fazia parte da Torre de Vigia. Você sabe se fazia parte da Torre de Vigia ou da filial dos EUA ou de alguma outra entidade? Você sabe?

Hoffman: Nós apenas obtemos a informação no papel timbrado. Não tenho a certeza sobre a que departamento ele está subordinado, sobre a qual escritório pertence. É ligado à filial dos Estados Unidos.

Miller: Ok. Isso é tudo. Obrigado.

No testemunho final de Hoffman, ele havia admitido no banco de testemunhas que um membro do clero deveria relatar alegações de abuso sexual de crianças, mas negou ser membro do clero. Ele ainda admitiu que suas instruções vieram diretamente da Torre de Vigia, mas parecia confuso quanto à diferença entre a Torre de Vigia e filial dos EUA. Hoffman reconheceu que estava bem ciente de uma relação sexual entre Fessler e Monheim em 2005, mas perdeu todas as lembranças da comissão com Fessler em 2004, na qual foi intimamente repreendida. Finalmente, Hoffman admitiu que não contatou quaisquer autoridades, e não aconselhou os pais de Fessler a fazê-lo. Ele cedeu seu poder de decisão ao departamento jurídico da Torre de Vigia, testemunhando que se o departamento tivesse dito a ele para ir à polícia, ele o faria. O departamento nunca autorizou isso.

Julgamento, Dia 2:  #2 - Donald Hollingworth

Do outro lado da linha de trem Mason-Dixon está Freeland, a congregação das Testemunhas de Jeová de Maryland. Esta é uma congregação pequena, fica no condado rural de Baltimore, tem pouco recurso e um Salão do Reino simples. Lembro-me de ter doado e instalado equipamento de som neste local depois que o membro desta congregação, Terry Monheim, abusou de Stephanie Fessler, Isso foi três anos antes de sua prisão. Eu não sabia que um predador espreitava nas proximidades.

Pouco sabia eu que, em poucos anos, eu me sentaria dentro de um tribunal da Filadélfia, observando o advogado Jud Aaron tentar defender as ações ultrajantes dos anciãos Gary Neal, Scott Wagner e Donald Hollingworth. Em mil anos eles não podiam ganhar o dinheiro para pagar pelos serviços de Aaron, mas lá estava ele.

Donald Hollingworth agora é idoso, usa um aparelho auditivo e vive em Toms River, Nova Jersey. Testemunha de Jeová leal por mais de 50 anos, Hollingworth tem sido um ancião durante 40 daqueles anos. Mas, apesar de toda a sua lealdade à religião das Testemunhas de Jeová, Donald e seus colegas anciãos cometeram um erro crítico em 2004 e 2005, que custou à sua empresa-mãe, a Torre de Vigia, uma quantia significativa de dinheiro. Isso também prejudicou a reputação das Testemunhas de Jeová, que estão sob intenso escrutínio global por lidarem incorretamente com casos de abuso de crianças e por sua prática de evitar e negar aos membros o direito a certos tratamentos médicos que salvam vidas.

O advogado de Stephanie Fessler, Gregg Zeff, começou o questionamento de Hollingworth com a mesma pergunta que ele fez a Eric Hoffman:

Zeff: Eu gostaria de saber se você concorda que o clero deve relatar abuso sexual de crianças para proteger a vítima de dano adicional.

Hollingworth: Se eu concordo com isso?

Zeff: Sim.

Hollingworth: Sim.

Zeff: E você concorda que o clero nunca pode manter o abuso sexual de uma criança em segredo com o objetivo de proteger a congregação?

Hollingworth: Ah, sim, sim.

Zeff: Obrigado.

Depois de confirmar que Hollingworth não tem formação profissional na investigação de assuntos de abuso sexual, Zeff procura ser mais específico:

Zeff: Ok. Em 2004 ou 2005, você tinha alguma compreensão de quais eram suas obrigações com relação ao relato de suspeita de abuso infantil na Pensilvânia ou em Maryland?

Hollingworth: Sim.

Zeff: Qual era a sua compreensão naquela época?

Hollingworth: Que não havia nenhuma obrigação de denunciá-la do ponto de vista processual. Isso não significa que eu não sinto um dever, mas não havia o dever legal de denunciá-la.

Zeff: Senhor, você recebeu essa compreensão do departamento jurídico?
]
Hollingworth: Correto.

Zeff: Ok, e o departamento jurídico disse o quê?

Hollingworth: Testemunhas de Jeová..

Neste momento, é digno de nota que Hollingworth tinha testemunhado que os membros do clero devem relatar alegações de abuso sexual às autoridades, mas momentos mais tarde declarou que, de acordo com o departamento jurídico da Torre de Vigia, ele não tinha o dever legal de denunciar, apesar do seu próprio sentimento de dever de que devia fazê-lo. Hollingworth escondeu-se sob o duplo manto da justificação: a noção de que ele não era membro do clero e a orientação de sua própria organização que ele não tinha obrigação de denunciar.

Parece impensável que qualquer ancião das Testemunhas pudesse fazer a declaração de que os líderes de outras religiões têm a obrigação de denunciar abuso, mas as Testemunhas de Jeová estão de alguma forma isentas. As Testemunhas ensinam que todas as religiões são religiões “falsas”, exceto a delas. Os membros do júri devem ter ficado confusos ao tentar entender como uma organização que afirma abominar o abuso infantil pode ser tão delinquente em ajudar às vítimas.

Zeff continuou seu questionamento de Hollingworth, descrevendo as cartas que a Torre de Vigia envia aos anciãos. Hollingworth parecia confuso quando Zeff afirmou que, antes de 2001, essas cartas eram assinadas pela corporação Torre de Vigia. Hollingworth disse: "Não tenho certeza disso ... Neste momento eu não estava preparado para essa pergunta, senhor." Quando tratando sobre a relação entre Monheim e Fessler, Zeff perguntou:

Zeff: Você nunca procurou saber a idade da menina que ela estava beijando, não é?

Hollingworth: Eu sabia que ela era uma adolescente, e que tinha a idade aproximada dos filhos desta outra senhora, porque ela se associou com eles. Eu sabia que ela não tinha 19. Eu sabia que ela não tinha 13 anos, mas alguma idade intermediária.

Zeff: E quando você soube disso, uma comissão foi formada, não foi, uma comissão judicativa?

Hollingworth: Sim.

Zeff: Ok. Você foi o presidente dessa comissão judicativa?

Hollingworth: Não fui eu. Era um dos outros dois irmãos. Hoje não posso lhe dizer com certeza.

Zeff: Ok.

Hollingworth: Eu acredito que foi Gary Neal, mas isso não é uma certeza.

Zeff: E uma das suas principais obrigações.

Hollingworth: Obrigação de fazer o quê?

Zeff: Informar às autoridades legais sobre este assunto.

Hollingworth: Eu não sei se eu tinha essa obrigação, eu não sabia disso; eu fui investigar para saber o que estava acontecendo, portanto, eu não comecei a pensar em muitas outras coisas que eu teria que fazer até que eu pudesse descobrir o que estava acontecendo.

Zeff: Mas você consultou o departamento jurídico?

Hollingworth: Sim, consultei. .

Zeff: E foi-lhe dito que não tinha nenhuma obrigação sob a lei de Maryland, certo?

Hollingworth: Que eu não tinha nenhuma obrigação de denunciar; foi isso que você me perguntou?

Zeff: Sim. Você não tinha o dever de denunciar?

Hollingworth: Nenhum dever legal.

Zeff: Certo.

Hollingworth: Não havia nenhuma lei que dizia que eu tinha que denunciar.

Zeff: E de fato você não denunciou nada, não é?

Hollingworth: Não, eu não.

Zeff: E nenhum membro da comissão judicativa, que é do seu conhecimento?

Hollingworth: A meu conhecimento.

Hollingworth confessa que triturou anotações

O interrogatório de Zeff deu então um giro interessante. Zeff pede a apresentação das anotações de Hollingworth, tomadas em 2005 ao se encontrar com a agressora Terry Seipp:

Zeff: Por que você fez essas anotações?

Hollingworth: Porque eu não tenho uma memória muito boa ao longo dos anos, negócios e reuniões que eu vou, e assim faço anotações para o caso de haver uma razão para lembrar, no caso de haver uma discussão mais tarde, caso haja outra comissão. Sempre faço anotações. É meu hábito de empresário, eu sempre fiz anotações.

Zeff: E no que diz respeito a ser um ancião, você tinha por norma fazer anotações, depois rasgá-las e destruí-las, não era?

Hollingworth: Sim, a trituração está em um, sim, eu tinha um shredder, mas não sei. Eu, sim, não os guardei. Não os guardei. Eu não queria que elas ficassem por aí.

Zeff: Isso era algo que as cartas aos anciãos sugeriam que você fizesse, elas instruíam você fazer isso de fato, não deixar anotações por aí, destruí-las se não forem necessárias?

Hollingworth: Bem, isso é possível. Eu sempre, mesmo ser, eu, se é algo de natureza confidencial, eu teria suficiente cuidado para não as deixar por aí.

Hollingworth invoca o privilégio do clero, que ele aprendeu na televisão

Hollingworth revelou um detalhe crítico que a organização Torre de Vigia não quer que o público saiba: que os anciãos muitas vezes descartam, trituram, movem, escondem e destroem anotações, não apenas nos casos de crimes menores, mas mesmo quando os registros se referem a acusações de abuso infantil, contrariamente à sua política oficial.

O advogado Zeff continuou ganhando força quando chamou a atenção para sua próxima exposição: as anotações feitas por Donald Hollingworth durante a comissão judicativa com Terry Monheim. Zeff exibiu as anotações para o júri:

(Anotações de Hollingworth) Diz: "Depois de garantirmos que os membros da comissão judicativa não testemunhariam em um caso legal, ela ficou aliviada e  próxima".

Zeff: Então, você disse a Terry Seipp que nenhum membro da comissão judicativa iria testemunhar contra ela?

Hollingworth: Bem, eu acho que você sabe; você está pensando em algo diferente do que eu estou pensando. O caso legal a que se referem as minhas anotações é que ela estava preocupada com a possibilidade de o marido querer se divorciar dela; e nós estávamos dizendo a ela que qualquer coisa que ela nos dissesse, nós não usaríamos em seu caso de divórcio contra o marido dela, ou vice-versa. E tínhamos pensado que tínhamos o direito de fazer isso.

Zeff: Você aprendeu isso com o departamento jurídico?

Hollingworth: Perdão?

Zeff: Você aprendeu isso com o departamento jurídico?

Hollingworth: Não. Aprendi ao assistir televisão, eu acho ...

Zeff: Você aprendeu, pela televisão, que o que quer que ela dissesse em sua comissão, você não precisava testemunhar em um processo de divórcio?

Hollingworth: Bem, não como membro do clero, eu pensei que seria...bem, você sabe, talvez eu esteja errado, mas eu acho que seria confidencial.

Neste ponto, Hollingworth está acuado – recolhido em um canto muito pequeno, sem saída e sem palavras. Em 2005, ele entrevistou uma predadora sexual, mas em vez de entrar em contato com as autoridades, ele assegurou a Terry Monheim que suas confissões aos anciãos não seriam usadas ​​contra ela em qualquer processo de divórcio. De alguma forma ele invocou o privilégio do clero, depois de negar que ele é um membro do clero. Além disso, ele está completamente inconsciente de que o privilégio do clero não existe quando um considerável grupo de anciãos e outros indivíduos foram informados dos crimes de Monheim.

Para ser franco, Hollingworth aparentou ser extraordinariamente ignorante. O que é mais bizarro é que ele afirma que o departamento jurídico da Torre de Vigia o avisou que ele não tinha o dever de denunciar tais alegações ou confissões de abuso sexual. A lei de Maryland na época exigia a denúncia de abuso de crianças, mas as isenções para os membros do clero eram um tanto vagas, o que provavelmente levou o departamento jurídico da Torre de Vigia a sugerir que ele não tinha obrigação de denunciar o abuso. Na maioria dos estados, as isenções de abuso infantil tornam-se nulas quando os clérigos transmitem as confissões feitas em privado para outros anciãos ou pessoas adicionais, isto é, os departamentos jurídico e de serviço da organização das Testemunhas de Jeová.

O interrogatório continuou enquanto o advogado Zeff chamava a atenção para as anotações de Hollingworth de seu telefonema para o departamento jurídico da Torre de Vigia.

Zeff: O que é isso?

Hollingworth: Essa foi a minha anotação sobre quando eu liguei... quando entrei em contato com o departamento jurídico para discutir o assunto com eles e eu fiz algumas anotações relativas a essa chamada.

Zeff: Ok. Você ou alguém de sua congregação já entrou em contato com a congregação de Spring Grove, onde Stephanie Fessler era membro?

Hollingworth: Não.

Zeff: Alguém na sua comissão judicativa fez contato com eles...

Hollingworth: Sim

Zeff: Ok. E eles informaram que havia uma investigação sobre um possível abuso sexual?

Hollingworth: Você teria que perguntar o que eles deixaram a gente saber.

Zeff: Ok. Eu quero ir para a parte onde diz "quero que revejamos as cartas da sociedade com os sete anciãos". Você vê isso?

Hollingworth: Sim, eu vejo.

Zeff: O que você quer dizer com isso?

Hollingworth: O que diz, revise as cartas, com todo o corpo de ancião, todos os anciãos na congregação.

Zeff: Diz "com todos os sete anciãos", que é todos?

Hollingworth: O que diz?

Zeff: Ele diz: "Quero que revisemos as cartas da sociedade com os sete anciãos".

Hollingworth: Sim, esse seria o nosso corpo de anciãos naquela ocasião.

Zeff: Ok. E isso tem a ver com sua investigação sobre Terry Seipp?

Hollingworth: Bem, fazia parte; meu telefonema foi uma investigação que fiz para saber como lidar com isso, sim. E disseram para ler algo nessas cartas, que não me lembro.

Zeff: Quem te disse para ler essas cartas?

Hollingworth: Quem quer que estava falando comigo no departamento jurídico. E eu estou dizendo isso por causa das anotações, é o que suponho. Eu não sei de fato hoje quem me disse para consultar as cartas, mas posso apenas deduzir quem seria. E eu não deveria estar fazendo suposições, deveria?

Zeff afirma que ele tem cópias dessas cartas, e diz a Hollingworth que ele vai agora revê-las, começando com a carta de 1 de julho de 1989 para o corpo de anciãos. Hollingworth admite que provavelmente tinha revisto esta carta naquela ocasião, reconhecendo que era um documento muito importante para rever.

Outra revelação ocorreu quando Zeff faz referência ao artigo da Sentinela de 1 de janeiro de 1997 intitulado "Abominemos o que é iníquo". No tópico "Que dizer do molestador de crianças?”,  A Sentinela declarou:
Por exemplo, quando alguém faz propostas imorais a outro adulto, este deve poder resistir às propostas dele ou dela. Crianças são muito mais fáceis de enganar, de deixar confusas ou aterrorizadas. A Bíblia diz que a criança tem falta de sabedoria. (Provérbios 22:15; 1 Coríntios 13:11) Jesus usou crianças como exemplo de humilde inocência. (Mateus 18:4; Lucas 18:16, 17) A inocência da criança inclui a ausência completa de experiência. A maioria das crianças são expansivas, gostam de agradar, e assim são vulneráveis a abusos por parte dum adulto ardiloso a quem conhecem e em quem confiam. Portanto, a congregação tem perante Jeová a responsabilidade de proteger as crianças.

Zeff pergunta a Hollingworth:

Zeff: Ok. Você se lembra de revisar isso? E eu vou lê-lo para você para saber se você entende isso. Você se lembra de revisar isso na época da comissão judicativa? Diz: "Crianças são muito mais fáceis de enganar, de deixar confusas ou aterrorizadas ".

Hollingworth: Não me lembro na época da comissão, mas, senhor, eu mencionei antes, eu tinha muitos filhos e estou muito consciente dessa necessidade.

Zeff: Ok. E se o departamento jurídico tivesse lhe dito, você teria chamado a polícia, teria procurado os serviços de proteção à criança?

Hollingworth: Eu não preciso ser informado.

Zeff: Ok.

Hollingworth: Eu, eu não quero ser chato ou qualquer coisa, mas, não, eu te disse, eu, abuso é uma palavra que é pior do que o ódio e eu não gosto dessa coisa e eu não gosto de estar envolvido nisso mesmo agora, ao ser perguntado sobre isso.

Zeff: Ok. Você realmente não precisa ser avisado para ligar para a polícia, não é? Você poderia ter feito isso de qualquer maneira?

Hollingworth: Eu o quê?

Zeff: Você poderia ter chamado a polícia, mesmo que o departamento jurídico lhe dissesse para não fazê-lo?

Hollingworth: Sim. Em retrospectiva, sim.

Zeff: Mas você não fez?

Hollingworth: Perdão?

Zeff: Você não fez?

Hollingworth: Já foi respondida.

Zeff: Ok. Você não falou com a congregação de Stephanie Fessler sobre sua versão da história, falou?

Hollingworth: Eu disse que não, eu não falei com ninguém.

Zeff questionou se a congregação de Maryland teve quaisquer discussões significativas com a congregação de Spring Grove, Pennsylvania, sobre o bem-estar de Stephanie Fessler:

Zeff: Mais uma vez, senhor. Você tinha preocupações sobre o bem-estar da adolescente que estava envolvida com Terry Seipp? Estava preocupado com ela?

Hollingworth: Sim, eu tenho preocupações com todos os jovens, absoluto; sim. Como eu diria que não? Claro, eu seria um ogro para dizer não a isso!

Zeff: E, mas você queria seguir os conselhos do departamento jurídico, em vez de fazer qualquer outra coisa; não é verdade?

Hollingworth: Sabe, eu não estava lidando com uma adolescente. Estávamos lidando com Terry Seipp em nossa congregação. Por favor, a outra congregação estava lidando com a adolescente. Isso nada tem a ver com os meus sentimentos e os meus pensamentos sobre o assunto e como ele foi tratado. Então, você está me confundindo e você está confundindo o problema.

Parece que a fronteira invisível entre Maryland e Pensilvânia, juntamente com as instruções do departamento jurídico da Torre de Vigia para Hollingworth, invalidou seu melhor julgamento, permitindo-lhe ignorar o fato de que um crime tinha ocorrido e que ele estava obrigado a denunciá-lo. Hollingworth admitiu que também estava ciente de que Dana, o marido de Terry Seipp [Monheim], tinha descoberto o relacionamento, e contratou um detetive particular para confirmar suas suspeitas. O Sr. Seipp não perdeu tempo e compartilhou essa informação com os anciãos de Freeland.

Zeff: Você tinha uma suspeita de que ela poderia estar abusando de uma criança?

Hollingworth: Eu queria saber os fatos.

Zeff: Ok. Bem -

Hollingworth: O marido dela não diria, e ele não era um membro de nossa congregação. Eu só o vi uma vez, apenas o suficiente para dizer “oi!”. Aí ele aparece e diz: "Eu tenho fotos, mas não vou dizer o que são, mas é melhor você fazer algo sobre isso", que tipo, o que devemos fazer?

Zeff: Chamar a polícia?

Apesar de uma objeção assegurada do advogado de defesa Jud Aaron, Zeff tinha desferido um soco com esta última pergunta, que ecoou na sala de audiência, enquanto Aaron fazia o seu caminho para a tribuna para interrogar o Sr. Hollingworth.

No que parecia ser um movimento desesperado, Aaron apresentou seu argumento de que aos anciãos não é dito que não devem denunciar.

Aaron: Você está ciente de qualquer política das Testemunhas de Jeová de não denunciar abuso sexual infantil às autoridades? Você está ciente de tal política?

Hollingworth: Não.

Aaron: Em qualquer uma das cartas aos anciãos, no livro KS [nota do tradutor: livro secreto da Torre de Vigia, que é de leitura restrita aos anciãos] ou nas escolas que você participou...você já frequentou essas escolas?

Hollingworth: Sim, senhor.

Aaron: Em alguma dessas cartas, ou nessas escolas ou no livro KS, você já foi instruído ou orientado para não denunciar abuso sexual às autoridades?

Hollingworth: De jeito nenhum. De jeito nenhum.

Aaron: O que você tem sido instruído a fazer se um relatório de abuso sexual vem à sua atenção?

Hollingworth: Entre em contato com o departamento jurídico.

Aaron nunca pergunta a Hollingworth se os anciãos são instruídos a relatar qualquer alegação de suspeita de abuso infantil; em vez disso, ele desvia a atenção dessa questão crítica, primeiro permitindo que Hollingworth testemunhe que ele é um homem de família, com muitos filhos e netos. Aaron questiona Hollingworth sobre o que ele lembra das confissões de Terry Seipp durante a comissão judicativa, e trata dos procedimentos que esses homens seguiram após aquela audiência:

Aaron: Depois que a comissão judicativa se encontrou com Terry Seipp, você relatou ao departamento jurídico?

Hollingworth: Sim.

Aaron: Você sentiu que estava seguindo o procedimento correto ao fazer isso?

Hollingworth: Sim.

Depois de se referir à carta aos Anciãos de 23 de março de 1992, sobre o abuso de crianças, Aaron chama a atenção para a página 3 da carta, que diz que pode-se prevenir o abuso entrando em contato com o departamento jurídico da organização Torre de Vigia.

Ele então associa "proteção adicional" à declaração anterior de Hollingworth de que os anciãos não são proibidos de denunciar abusos:

Aaron: Você já foi aconselhado, como ancião, ou você está ciente de qualquer orientação que, a fim de proteger a religião das Testemunha de Jeová, abuso infantil não deve ser denunciado às autoridades?

Hollingworth: Pelo contrário. A razão pela qual eu sou uma Testemunha de Jeová hoje, eu nem sempre fui, foi por causa da sua preocupação com a veracidade e pelo cuidado que tem com as pessoas, e qualquer coisa, e isso faz muito sentido. Não, isso nunca acontece.

Aaron: Obrigado.

Aaron encerra sua linha de questionamento e cede espaço aos seus colegas membros da equipe de defesa. O advogado Miller, da Torre de Vigia, não tem perguntas, e o advogado da CCJW, Louis Lombardi, continua no seu voto legal de silêncio. A testemunha então é redirecionada para a acusação.

Vítimas desencorajadas de frequentar terapia de entrevista

O advogado Zeff dirige a atenção para a carta aos Anciãos, de 23 de março, desta vez para a seção onde as Testemunhas de Jeová são advertidas contra participar na terapia de entrevista como um meio de ajudar vítimas de abuso infantil.

Zeff: Senhor, posso direcionar sua atenção para o último parágrafo da página 2, onde diz "Alguns profissionais médicos", e vai para a próxima página. Eu só queria lhe fazer algumas perguntas sobre isso, porque algumas coisas que você disse sobre isso, eu acho, foram um pouco perturbadoras para mim. "Alguns profissionais médicos e terapeutas oferecem terapia de entrevista para aqueles que sofrem em decorrência de abuso infantil. Participar de terapia de entrevista com um terapeuta profissional é uma decisão pessoal, mas, durante essa terapia, pode haver problemas de se revelar fatos confidenciais sobre outros membros da congregação cristã se o cristão não usar de discrição. Assim, os anciãos podem dar alertas aos irmãos e irmãs, assim como descrito na revista A Sentinela de 15 de outubro de 1988, página 29, sob o subtítulo Terapia de entrevista. Eles podem ser ajudados a ver que conversar indiscriminadamente com outros sobre abuso de criança pode resultar em boatos e tagarelice prejudicial" Senhor, segundo o que você entende, o que isso significa?

Hollingworth: Talvez eu não tenha pegado todos os detalhes aqui, mas, meu, estou me concentrando na última frase aqui. Nós não devemos falar sobre isso, fofocar, não é algo para ser espalhado.

Zeff: Senhor, a minha pergunta é como falar de abuso de crianças pode resultar em boatos e tagarelice prejudicial; eles não estão dizendo isso...não é este um documento oficial que foi indicado a você? O que você entende disto: “Eles podem ser ajudados a ver que conversar indiscriminadamente com outros sobre abuso de criança pode resultar em boatos e tagarelice prejudicial”? O que você entende disso?

Hollingworth: Para ter cuidado e pensar sobre isso. Pense antes de falar. Faz sentido para mim.

Hollingworth se esquiva da questão, refletindo sua incapacidade de comentar a posição da Torre de Vigia sobre terapia de entrevista; então Zeff segue em frente. Zeff em seguida pede a Hollingworth para dar explicações sobre o livro KS e sobre as escolas, e Hollingworth descreve o programa de treinamento dos anciãos. Zeff então pergunta:

Zeff: A questão do abuso infantil é abordada nessas escolas?

Hollingworth: Tenho certeza que sim.

Zeff: E essas escolas são conduzidas pela Torre de Vigia?

Hollingworth: Elas são conduzidas por uma Testemunha de Jeová. Eu não sei por que, elas são conduzidas por um instrutor das Testemunhas de Jeová.

Zeff: Ok. E de onde vem esse instrutor?

Hollingworth: Eles vêm de um monte de lugares diferentes. Às vezes é o nosso superintendente de circuito que vem; temos apartamentos para eles nos Salões do Reino locais. Houve instrutores diferentes pelas diferentes vezes ao longo dos anos, eles vêm de um monte de lugares diferentes.

Zeff: Os documentos que você estuda nessas escolas vêm da Torre de Vigia?

Hollingworth: Eu não sei. Não sei se a Torre de Vigia envia documentos. Ela nos dar literatura. Ela nos dar alguma literatura. Ela cuida da impressão de nossa literatura. Eu não sei. Eu apenas não posso responder a essa pergunta. Você teria que perguntar a alguém que vem de lá. Estaria tudo bem se eu tivesse mais água?

Zeff: Não tenho mais perguntas, Meritíssima.

Em resposta ao testemunho de Hollingworth, John Miller, o advogado da Torre de Vigia, interrogou a testemunha para esclarecer apenas uma coisa: apesar de ser advertidos dos perigos da terapia de entrevista, os sobreviventes de abuso de Testemunhas de Jeová não estão excluídos da terapia individual. Parecia um tanto inconsequente mencionar isso, mas Miller parecia disposto a fazer com que o júri soubesse que as Testemunhas de Jeová aceitam alguns tipos de terapia profissional.

Naturalmente, Miller desconsidera o fato de que muito do intenso trauma sofrido por Stephanie Fessler foi, em primeiro lugar, causado pelos anciãos e pela organização que a trataram como pecadora e não como vítima.

O cansado e sedento Hollingworth parecia confuso e não estava disposto a dar respostas concisas e lúcidas para perguntas que eram bastante simples - especialmente para um homem que passou os últimos 40 anos de sua vida como um ancião nomeado. Para ser justo, a principal testemunha da Torre de Vigia, Thomas Jefferson, foi ainda mais evasiva, como pode ser visto em seu testemunho durante os dois primeiros dias deste julgamento.

Como qualquer um que estudou as Testemunhas de Jeová entende muito bem, os líderes da organização não estão nem pouco dispostos a divulgar informações a qualquer pessoa que achem que "não têm o direito de saber" tal informação. Quão irônico para uma religião que descreve todos os seus ensinamentos e práticas como "A Verdade"!

Para os leitores do JW Survey, se são Testemunhas de Jeová ou não, eu não posso subestimar o valor deste termo verdade. No início deste julgamento, a juíza Mary C. Collins disse ao júri que eles serão os únicos a determinar o que é verdade neste caso, e cabe a eles decidir quais informações são factuais, com base nas evidências apresentadas.

Embora este caso tenha sido resolvido após quatro dias de testemunho, temos, como cidadãos globais, a oportunidade de julgar as evidências para nós mesmos e tirar nossas próprias conclusões. Até agora, temos coberto as declarações de três Testemunhas de Jeová, incluindo dois anciãos e um membro do alto escalão da organização. Em nosso próximo artigo sobre o caso Fessler, vou transcrever os testemunhos da agressora, Terry Monheim, e da detetive que a acusou por seus crimes, Lisa Layden.


Tendo visto as provas apresentadas neste caso, penso naquela quente manhã de verão em Reading, Pensilvânia, quando vi o homem com a placa que dizia: "Um ancião das Testemunhas de Jeová me molestou"; e se havia alguma dúvida de que ele estava dizendo a verdade, essa dúvida não existe mais.

(Esta postagem foi traduzida com a ajuda do Google Tradutor)


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Um comentário:

  1. O que me faz lembrar isso, são as malditas comissões judicativas, onde, os anciãos acreditando que tem autoridade, se comportam como juízes, mas de forma alguma, em bondosos e principalmente justos juízes, mas em verdadeiros carrascos, humilhando ainda mais a vítima, fazendo perguntas altamente constrangedoras e na maioria das vezes, terminando por vitimiza-la uma segunda vez! Agora aí estão eles se vendo em papos de aranha com quem tem qualificações para fazer tais julgamentos...nada mais reconfortante, não por ver uma serpente venenosa provar do próprio veneno, mas por ver a justiça sendo feita!

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