domingo, 30 de outubro de 2016

Livros inúteis (depoimento)

(Traduzido de JW - Avoidance is Beneficial) Nasci em 1977. Eu sou a quinta geração de Testemunhas de Jeová por parte de minha mãe, e terceira, por parte de meu pai. Isto não inclui gerações sobrepostas!*

O tio de minha bisavó era ungido. Ele foi colportor por várias décadas do século 20. Minha bisavó morreu no serviço em 1975. Ela era “um grande exemplo de uma boa Testemunha de Jeová”. Meus dois avôs casaram incrédulos, ou não-Testemunhas, no entanto meus pais passaram a fazer parte da seita. 


Meu pai foi para Brooklyn em 1968 e serviu lá até 1973. Minha mãe foi pioneira, “onde a necessidade era maior”, por três anos em El Salvador. Isso foi de 1970 a 1973. Eles se conheceram em um congresso internacional em Washington, DC, em 1968, mas vieram a se casar apenas em 1973. Então foram pioneiros juntos até 1975, quando nasceu minha irmã. 

Somos três irmãos: minha irmã mais velha, eu e meu irmão mais novo. Tivemos uma infância maravilhosa. Eu costumava pensar que tínhamos pais que nos amavam bastante. Visitamos betel regularmente e, ao longo dos anos, centenas de betelitas estiveram em nossa casa.

Em 1989, minha irmã e eu formos batizados na Filadélfia. Eu tinha 12 anos. Minha irmã iniciou o serviço de pioneira auxiliar imediatamente. Eu fui pioneiro auxiliar regularmente em meu primeiro ano do Ensino Médio. Quando terminei o Ensino Médio, em 1995, tornei-me pioneiro regular.

Casei-me em 1997. Minha esposa e eu fomos pioneiros até 2001, quando nasceu nossa filha. Minha esposa voltou a ser pioneira em 2006, quando nossos filhos já tinham mais idade.  

Uma coisa abominável que aconteceu em um “lugar santo”

Houve muitas coisas que, há bem mais tempo, deveriam ter-me acordado para a realidade de que eu estava em um culto. A seguinte situação é algo que sempre vai ficar comigo, e você entenderá por quê.

Em 2004, minha filha, de apenas três anos, foi molestada em um Salão do Reino. Aquilo foi algo que eu não conseguia acreditar que podia acontecer. Infelizmente, aconteceu. Mas pior que isso foi a maneira como os anciãos lidaram com o caso. Além de lidarem mal com o caso, nem sequer contataram escritório da filial para pedir orientações.

Apenas seis meses depois, um abominável pedófilo tocou-lhe novamente. A essa época, eu era Servo Ministerial. Então contatei o escritório da filial por minha conta. Quando os anciãos tiveram ciência da minha atitude, fui tratado pior que o pedófilo. Sim!  Eles tornaram as coisas muito difíceis para mim por contar à filial que um pedófilo molestara a minha pequena garota!

Para aumentar nosso sofrimento, fomos desprezados por nossa própria família. Nós éramos vistos como problemas, não como vítimas. Embora pudéssemos relatar o caso à polícia, fomos aconselhados a não fazê-lo. O que nós não sabíamos na época é que esse monstro havia abusado de outras crianças, em outros Salões do Reino, antes de chegar ao nosso. Havia apenas algumas semanas da sua chegada, quando ele abusou da minha filha. É desnecessário dizer que não fomos informados, e nenhum outro pai foi informado de que ele era um conhecido pedófilo. Há muito mais que eu poderia dizer sobre este assunto, mas é muito difícil de abordar.

Uma razão de despertar

Foi somente em 2011, aos 34 anos, que fui designado ancião. Por que demorou tanto tempo? Porque, sem consultar os anciãos, contatei o escritório da Filial em busca de orientações sobre como lidar com o caso de abuso sexual sofrido por minha filha.

Minha esposa e eu continuamos sendo Testemunhas de Jeová porque acreditávamos que era a verdade. Mantivemo-nos firmes, servindo a Jeová tão bem quanto nós podíamos.

Avancemos para 2013

Minha congregação tinha 16 anciãos. O Superintendente de Circuito perguntou se um de nós gostaria de ser transferido para ajudar uma congregação vizinha. Eu ofereci-me para ajudar essa congregação. Passado cerca de um mês após unir-me à esta congregação, fui designado Superintendente de Serviço.

Pouco tempo depois, um pedido de estudo bíblico foi recebido através do site jw.org. Pedi à minha esposa que dirigisse esse estudo e ela aceitou. Do ponto de vista de uma Testemunha de Jeová, esta jovem fez um progresso incrível com minha esposa. Com poucas semanas, ela começou a frequentar as reuniões congregacionais; e, em poucos meses, tornou-se publicadora não-batizada.

No entanto, ela continuou a fazer pesquisas. Ela consultava tanto a literatura da Torre de Vigia, bem como outras fontes. Assim, na primavera de 2015, ela encontrou algo que apontava a Torre de Vigia como uma ONG ligada às Nações Unidas. Ela mostrou esta evidência à minha esposa e isso fez ruir nosso mundo.

Minha esposa havia sido pioneira por 20 anos. Ela viveu para “a verdade”. No entanto, depois dessa descoberta, ela fez mais e mais pesquisas. A cada coisa que encontrava, ela queria mostrar-me. Tivemos mais brigas e discussões em 2015 do que nos outros 19 anos em que estivemos casados.

Ela estava acordada, mas eu não.

Eu nada conseguia ver, pois ainda estava sob o efeito da lavagem cerebral. Nem mesmo o vídeo do depoimento deGeoffrey Jackson à Comissão Real Australiana, sobre abuso sexual, foi capaz de acordar-me.

Foi algo bem diferente que me fez acordar. 

Acordando

Como Superintendente de Serviço, o balcão de literatura do Salão do Reino era minha responsabilidade. Como tínhamos um servo idoso que não lidava bem com um computador, eu tinha que colocar a lista de publicações no jw.org a cada seis meses.

Em setembro de 2015, eu enviei a lista de publicações como de costume. Um mês depois recebi uma carta da filial em minha conta do jw.org. Eu fui instruído a descartar toda a literatura antiga, mas passei a carta para o meu servo de literatura. Ele não descartou a literatura como instruído, e eu não me lembrei mais disso.

Seis meses depois, em fevereiro de 2016, enviei a lista de publicações novamente.  Pouco tempo depois, recebi outra carta da filial. Fui instruído a descartar a literatura antiga na próxima reunião. Estávamos proibidos de distribuí-las aos irmãos  e irmãs.

A literatura que fomos instruídos a descartar era esta:



Mas por quê? Por que era tão ruim ter esses livros no balcão de literatura? Na última terça-feira de fevereiro, depois da reunião congregacional, nós tínhamos reunião de anciãos. Nela, gastei um tempão procurando convencer meus colegas anciãos de que não deveríamos descartar a literatura antiga, que era agora inútil. Estes livros inúteis – que foram um dia valioso “alimento espiritual” – tinham então a lixeira como destino. Isto é como fui orientado. Isto é como fomos orientados. Esta é a orientação que foi dada a todos os anciãos espalhados pelo globo. Foi com esta percepção durante a reunião que eu acordei. Ocorreu-me que era tudo uma mentira. Eu estava trabalhando para uma empresa. Estávamos todos trabalhando para uma empresa.  

Isto não era a verdade.

Aquela foi minha última reunião. Nunca mais voltei. Escrevi uma carta ao Coordenador de Corpo de Anciãos. Disse-lhe que eu não mais podia servir no corpo de anciãos. Ele não queria ouvir nada do que eu tinha a dizer. Ele fechou seus ouvidos. Ele fechou seus olhos. Sim, ele fechou sua mente.

Todas as coisas que minha esposa contou-me durante 11 meses imediatamente fez sentido. Tudo veio junto.

O ostracismo de um membro da família

Depois de estar afastado por um mês, eu já não conseguia viver uma vida dupla, e então, em março de 2016, escrevi uma carta para toda a minha família.

  • Minha irmã, que reside em Walkill desde 1998, além de não me responder, também bloqueou meu número.
  • Minha tia e tio, que são missionários no Quênia, simularam um funeral para a nossa família. Eles têm nos tratado como se estivéssemos mortos.
  • Meu pai, que ainda é ancião, nem sequer me chamou para discutir o assunto; também não procurou ajudar.
  • A resposta da minha mãe foi provavelmente a mais surpreendente. Tendo ficado muito abalada, ela fez contato por telefone e por e-mail. Disse-me que ainda não consegue ver mentiras e acobertamentos.

Eu não consigo acreditar que minha família está-me evitando. Eu não passei a fumar. Não passei a beber. Não uso drogas. Não cometi fornicação, adultério ou qualquer outro ato que possa constituir “porneia”.

Meu cunhado, que é um alcoólatra, e que tem servido na sede mundial desde 1991, está ok! Ele é uma boa companhia, mas eu sou ímpio?

Eu perdi toda a minha família e um monte de amigos. Mas nem tudo está perdido.

Seis meses depois e nossa vida real.

Apesar de estar sendo evitado por toda a minha família, como dito acima, tem-me acontecido coisas legais. Na verdade, nestes últimos seis meses, as coisas tem sido incríveis, e muito divertidas.

Eu tenho feito coisas legais que eu nunca sonhei que faria antes. Eu adoro videogames. Eu não jogava antes, porque sempre que o fazia me sentia mal. Este ano, comprei um  PlayStation 4. Adoro esse jogo!

Pela primeira vez assisti filmes com classificação restrita. Curiosamente, nada mudou em mim.

Encontrei dois irmãos de minha mãe. Eles deixaram o culto na década de 70. Também conheci um primo que eu nem sabia que eu tinha.

Felizmente para mim, meu irmão acordou pouco depois de mim. Sua esposa também se libertou. Eles estão mais felizes do que nunca. Para acrescentar, o irmão de minha esposa e sua esposa também estão fora. O casamento deles não ia bem, mas agora estão na melhor fase de suas vidas.

Conforme narrado por Martin John Haugh. 

(Esta postagem foi traduzida com a ajuda do Google Tradutor).
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*Uma referência indireta à nova interpretação que faz a Torre de Vigia da palavra “geração” do evangelho de Lucas.


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4 comentários:

  1. Que alegria imensa saber que vc se libertou desse vinculo devastador eu também me libertei dele e todos os outros que a religião te impoe


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  2. Este demorou,mas despertou.Infelizmente a maioria deles morrerão cegos mesmo diante de tantas evidências.É como se gritassem aos que tentam tirar-lhes as vendas:Por favor deixem nossas vendas em paz,pois preferimos continuar cegos!O pior é que acabamos sofrendo por eles,por entender os seus sentimentos em relação a nós,mas mal sabem eles que no nosso caso esse sentimento é redobrado,porque nos sentimos impotentes diante dessa obediência cega.

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  3. Bom dia, vendo o livro "poderá viver" lembro claramente de minha decepção em 1995, se bem me recordo do ano, a sociedade em um estudo de A sentinela, mudou seu ensino oficial referente a 1914, segundo era ensinado nesse livro. Já era ancião e estava visitando uma congregação como orador do dia e estava ansioso para observar como os irmãos iriam reagir na leitura do paragrafo que abordava o assunto, e para minha surpresa não houve nada, o assunto foi abordado e passado adiante. Foi a primeira vez que percebi o estado de anestesiamento que a maioria vivia. Internamente eu estava confuso e decepcionado com aquilo, a mudança de ensino colocada de forma discreta e quase sem alarde nos parágrafos daquele estudo caíram como uma bomba em mim, grande parte ou quase todas as minhas expectativas eram baseadas no que era ensinado sobre a geração de 1914 e com o tempo em que haveria deles na terra, lembro até hoje da gravura do livro que ilustrava o envelhecimento deles...e de repente nada, esquece, formata...não deu, eu não consegui continuar no rebanho e depois daquele dia foi só uma ladeira de decepções até minha desassociação em 2001, que acredito demorou a vir por internamente eu não querer perder toda minha família, como de fato aconteceu. Mas no fim não dei conta de lidar com tudo aquilo. Felizmente hoje estou vivo e bem, com as marcas das experiencias ruins, mas bem.

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    1. Adriano, muito obrigado por suas palavras!

      Já tomei conhecimento de que essa revista de 1995 serviu de despertador para muitas Testemunhas. Mas o Corpo Governante era obrigado a fazer isso, pois a doutrina estava ficando indefensável. A geração de 14 estava desaparecendo e nem sinal do tal Armagedom. Essa atual explicação da "geração sobreposta" também tem prazo de validade; vai durar algumas décadas, mas também terá que ser abandonada.

      Grande abraço!

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