Dirigida aos inativos, uma nova
brochura parece ser mais uma opção adotada pelo Corpo Governante para deter o
crescimento cada vez mais lento do número de Testemunhas de Jeová. Essa preocupação é evidente, e se não forem
tomadas medidas drásticas, é possível que, em uma década, possa haver já um
crescimento negativo.
Em resumo, a brochura apela para o sentimentalismo como meio
principal para atrair o inativo – algo que sempre condenou quando usado por
muitas igrejas evangélicas.
No geral, alistam-se três razões para alguém ficar inativo:
1 – ansiedade
2 – mágoas
3 – sentimentos de culpa
Uma quarta razão poderia ser acrescentada:
Mas quanto a esta última
alternativa, o Corpo considera que não há necessidade de abordá-la. Nisso ele erra redondamente. Pois se se guiasse pela Bíblia, deveria
reconhecer que o próprio Deus nunca deixou de tentar argumentar com aqueles a
quem classificou de apóstatas – os israelitas.
Eu mesmo ficaria lisonjeado se o Corpo se dignasse a me responder
algumas breves perguntas. O fato de julgar que isso é desnecessário, a meu ver,
vai de encontro à proposta de um pastor amoroso tal como se apresenta. Tudo bem
que eu poderia acreditar nas respostas ou considerá-las insatisfatórias, mas
deixar de me responder por simplesmente concluir que, no meu estado, já não
vale a pena, parece ser um genuíno ato de prejulgamento.
Voltando a tratar da brochura, na
página 5 lemos o que seria uma demonstração de como Deus se importa com os
inativos:
Ele nos alimenta espiritualmenteJeová sempre proveu uma variedade de alimento espiritual reanimador na hora certa. Lembra-se de um artigo, discurso ou vídeo que foi uma resposta à sua oração? Não acha que isso foi uma prova de que Jeová se preocupa com você individualmente?
Não sei em que categoria de
retórica se classifica essa argumentação, mas muito me lembra aqueles
vigaristas que, para provar-se capaz de ler a mente ou o inconsciente de
alguém, afirma ter certeza que “em sua família tem uma pessoa doente”, “tem
alguém com problemas financeiros”. Ora, bolas! Se se escreve um artigo sobre
como resolver problemas no casamento, são enormes as chances de que, em dez
centenas de milhares de casais cristãos, pelo menos alguns milhares terão orado
a Deus com relação a algum problema matrimonial pouco tempo antes de receber
esse artigo. Requerer que isso seja entendido como respostas a orações, a meu
ver, é fazer pouco da inteligência
alheia.
Ainda nessa página 5 é possível
ler um chamado a que o inativo se recorde dos primeiro tempos como Testemunha,
quando tudo era novidade e tudo trazia alegria. Pelo que sei, quase 100% das
Testemunhas passaram por essa fase. Portanto, tanto quanto o argumento
anterior, este também é típico de vigarista – um argumento certeiro. É pena que
o Corpo não reconheça que esse entusiasmo, mesmo que volte e traga algum
inativo ao rebanho, logo tende a se desvanecer.
Na página 6, ao tratar de
ansiedade, o Corpo procura convencer ao inativo que o pouco que ele puder
fazer, mesmo que seja apenas assistir a uma reunião, já é suficiente para
alegrar o coração de Deus. Mas o inativo
talvez saiba que enquanto estava ativo, pelo mais que fazia, parecia ser sempre
pouco, não para Jeová, mas para a Organização.
Sobre isso, certa vez pude ouvir
o lamento de uma jovem irmã, pioneira regular, que estava muito sobrecarregada
com as tarefas de casa e as tarefas da congregação. Com isso, ainda tinha de
enfrentar a incompreensão da família, que não era Testemunha, e a insatisfação
dos anciãos, que não via sua dedicação ao serviço de campo. Tudo isso teve um
ápice quando ela - pioneira regular – faltou a um dia de congresso para fazer
uma prova de vestibular. Os anciãos, considerando o “mau exemplo” da irmã, logo
a chamara para se explicar, mas o que conseguiram foi colocar mais um na lista
de inativos. Por ser inativa, é bem provável que a nova brochura lhe seja
entregue por algum ancião zeloso, mas com certeza essa irmã ainda tem vívidas
lembranças do quanto já fez para a Organização e o quanto (e como) esta lhe
retribuiu.
A mágoa (página 8) é considerada
outro motivo para muitos passarem para a inatividade. Seja lá qual for a razão
que leve uns a agir dessa forma, o Corpo não considera nenhuma possibilidade de
que essa razão seja válida. Ao agir dessa forma, ele se esquece de um ponto
crucial da vida cristã, que é a única maneira deixada por Cristo pela qual seus
discípulos poderiam identificados – o amor entre eles. Minha convivência com as Testemunhas por uns
20 anos, tendo passado por três congregações diferentes e em três diferentes
cidades, me deixou uma certeza: o amor cristão entre as Testemunhas é
relativamente frágil. É verdade que há exceções, mas, no geral, cada um cuida
da sua própria vida e mesmo aqueles da dianteira estão ocupados demais para dar
atenção a alguém que muitas vezes quer tão pouco, tanto quanto apenas alguns
minutos de atenção. Pode ser que alguém entre na inatividade por uma questão
banal, mas razões legítimas existem, apesar de o Corpo lamentavelmente deixar
de reconhecer.
Por último, o sentimento de culpa.
Essa é com certeza uma realidade entre as Testemunhas – e novamente a razão
principal não é reconhecida. Quando a
Testemunha se deixa convencer que o Corpo tem razão absoluta em tudo o que diz,
então toda a sua vida vai girar em torno do quanto pode fazer para viver à
altura do que o Corpo define como padrão adequado para o cristão. E como
ninguém é perfeito, os erros podem ir se acumulando a tal ponto que o desânimo
cai como uma pedra sobre a consciência. E nisso, logo a Testemunha diminui sua
atividade no campo, diminui a assistência às reuniões, o que logo a faz se
sentir que não está fazendo “o máximo para Jeová” e, portanto, passa a se
sentir indigna de seu amor e proteção. Foi talvez num estado como esse
(enquanto convivia entre os fariseus) que uma prostituta se chegou a Jesus e
lavou com lágrimas os pés dele – tudo porque tinha a certeza que não seria
condenada. Uma Testemunha inativa não
tem hoje a pessoa de Jesus Cristo, mas apenas os anciãos. E ela talvez saiba
que, mesmo que o seu pecado não resulte em desassociação, ele será sempre uma
nódoa em sua vida, uma vez que estará sempre ali, na mente dos anciãos, os
quais, para ela, talvez não sejam os melhores exemplos quanto manter
confidências.
Em conclusão da brochura, veja
que argumento foi usado para mostrar ao inativo que Deus se importa com ele:
Jeová quer que você volte para ele. Por que você pode ter certeza disso? Considere o seguinte: esta brochura foi preparada cuidadosamente com muita oração. Talvez você tenha ficado sabendo dela por meio de um ancião ou de outro irmão na fé. Daí você sentiu vontade de lê-la e de agir de acordo com sua mensagem. Tudo isso é prova de que Jeová não se esqueceu de você. Pelo contrário, ele bondosamente o está atraindo de volta. — João 6:44. (página 13)..
Durante
décadas se fez muitos livros, brochuras e revistas e se tratou de todo tipo de
assunto, tanto que nessa brochura não se achou nenhum argumento novo par atrair
um inativo. Então por que deveria essa brochura ser encarada como prova de que
Deus se importa com ele? Se o Corpo é guiado por Deus, como argumenta, por que
esse amor divino pelos inativos só foi manifestado agora? Estou propenso a crer
que esse é mais um argumento para justificar mais uma maneira de combater o
lento crescimento de Testemunhas. Considerando a possibilidade de que essa
conclusão seja verdadeira, seria muito bom ouvir de Deus o que ele acha disso.
Este artigo foi discutido no fórum Extestemunhasdejeova.net.
Meu pai me indicou para fazer o download da brochura pelo jw.org mas não estou encontrando, poderiam me ajudar? Obrigado.
ResponderExcluirAcesse o link a seguir
Excluirhttp://extestemunhasdejeova.net/forum/viewtopic.php?f=12&t=17096
Ao acessar, procure o comentário de Fabio555.
Interessante, gostaria de ler....
ResponderExcluirUm abraço!
Ótimo artigo Lourisvaldo!!! Também acredito que faltou o quarto motivo que você mencionou no artigo. Na hipótese de admitirem certos erros graves do passado que reflitam no presente deste movimento, isto seria um má publicidade contra eles mesmos, então a hipótese de uma "mea-culpa" é remota.
ResponderExcluir5 anos atras e vc já mostrava que esta brochura alem de não trazer resultados
ResponderExcluirmostrava uma preocupação inativos que nunca mais seriam os mesmos de antes .
e hj além dos inativos , esta havendo uma debandada , graças a eta pandemia .