(KJA) A primeira pessoa a
apresentar sua causa sempre parece ter razão...
(Provérbios 18:17)
Não é surpresa para muitas Testemunha de Jeová a existência de páginas apologistas, que se proliferam cada vez mais
pela internet e mais especificamente pelas redes sociais – ainda que isso seja
feito contra a vontade de sua autoridade maior, o Corpo Governante. A outras
tantas Testemunhas surpreende, no entanto, o quanto algumas dessas páginas
procuram distorcer os conselhos e advertências do Corpo Governante, adotando a postura
de que ‘conselho a gente segue se quiser, e esse conselho a gente não quer seguir’.
Como consideram o Corpo Governante como
um guia espiritual, a atitude rebelde é no mínimo contraditória.
Nos últimos meses, um grupo
autodenominado “A Verdade é Lógica”, que, até aonde sei, tem presença no
youtube e no facebook, fez várias postagens confrontando doutrinas básicas de muitas
denominações cristãs, como a Trindade e o Sábado, dentre outras. Há pouco mais
de um mês, no entanto, depois de alguns apologistas terem sido expostos pelo
ativista Carlos Fernandes, foi publicado no canal deles um vídeo intitulado
“Tive contato com material apóstata; e agora?” Neste vídeo, o youtuber, quase que sem
contestar nenhuma acusação específica dos considerados apóstatas, acusam-nos de
mentirosos, além de impingir-lhes diversos outros adjetivos difamatórios.
Irei aqui examinar grande
parte das afirmações do youtuber, verificando a validade delas de acordo com
fatos facilmente checáveis pela maioria das Testemunhas de Jeová. Outra resposta a esse vídeo
pode ser lida aqui.
Para começar, cabe perguntar
quem é o narrador, que, pelo que posso presumir, é também o autor dos
argumentos. Vários apologistas podem ser vistos neste artigo da página Desperta, embora eu não possa afirmar que um ou mais deles sejam os
mantenedores do grupo A Verdade é Lógica.
Sobre por que não revelam suas identidades, eles publicaram recentemente uma justificativa. Em termos simples, (1) dizem que é para
não trazer mérito para eles próprios e (2) para não fazer outros tropeçarem,
visto que esses “outros” não concordam com o que fazem. Também (3) dizem que o
sigilo dos nomes lhes poupa de ataque ad hominem, que, segundo o narrador, é o
que os opositores (presumivelmente os “apóstatas”) sabem fazer.
1 - Aceitemos que a primeira
justificativa seja verdadeira;
2 - Quanto à segunda – os “outros”
–, se por “outros” se referem a Testemunhas comuns, estas tropeçam pelo que
fazem quer saibam ou não a identidade deles; tropeçam quando, como será visto
adiante, ficam sabendo por intermédio deles o grande segredo “Nações Unidas”,
bem como tropeçam por concluírem que podem também ingressar no trabalho
apologético pela internet, que é o que se nota mais e mais. Os “outros” que não
concordam são também o Corpo Governante, mas quanto a estes, o grupo já
declarou que não leva em conta a opinião de sua liderança maior; racionalizam que
“não apoiar” é diferente de “proibir” e que, por isso, vão continuar fazendo o
que fazem, queiram ou não o Corpo Governante. Portanto, essa segunda
justificativa só é válida na parte em que
safam os autores de serem chamados a se explicarem pela postura desaconselhada,
caso revelassem as identidades.
3 - Sobre ataque ad hominem
por parte dos “opositores”, é evidente que uma identidade secreta não é capaz
de impedir isso; Carlos Fernandes nunca revelou sua identidade, mas
constantemente sofre ataques ad hominem.
Considerando que esta última
justificativa é inválida, deseja-se saber se tanto ela como a primeira foram acrescentadas
apenas porque a segunda, por si só, é motivo suficiente para o grupo manter
secreta as suas identidades.
Qualquer que seja o caso, a
identidade deles não me será nem um pouco necessária nesta refutação.
Mais alguns detalhes precisam
ser ditos antes que eu inicie a análise do vídeo.
Primeiro: por todo ele, o narrador
refere-se a expressões do tipo: “os apóstatas dizem”, “os apóstatas pensam”,
“os apóstatas querem”... Nós, os “apóstatas”, não temos uma liderança ou um
líder que pensa por nós; cada um é livre para tirar quaisquer conclusões a
respeito de qualquer assunto relacionado à Torre de Vigia e cada um defende o
seu conceito, submete-o à opinião de outros ou simplesmente guarda para si. Se
a maioria de nós, ou uma minoria, defende um determinado conceito ou ideia, é
porque este conceito parece a esses justificar-se à base do que se analisa. O
mesmo se pode dizer dos políticos, dos filósofos, dos membros de determinada
igreja, etc. A respeito desses grupos, quase sempre é inapropriado atribuir a
um grupo inteiro todo um conceito, que pode ser apenas o conceito de alguns.
Sabemos que a generalização é uma falácia comum em argumentação e ela é recorrente no vídeo.
Segundo: o Corpo Governante, por
diversas vezes, já escreveu que os “apóstatas” odeiam as Testemunhas de Jeová e
o youtuber também repete esse conceito. Essa ideia é claramente incorreta.
Embora eu não possa negar que as Testemunhas de Jeová sejam odiadas por “apóstatas”,
o que fica evidente a todos que fazem uma análise honesta é que o nosso
ativismo é contra a hierarquia, o Corpo Governante; não necessariamente contra
os indivíduos que o compõem, mas contra as doutrinas elaboradas por eles (muitas
delas biblicamente mal fundamentadas), e
por exigirem submissão absoluta às regras que estabelecem, as quais, quando
versa sobre assuntos tão sérios como tratamento de saúde e questões familiares,
podem causar traumas irreparáveis. Nosso trabalho, quando
analisado seriamente, nota-se que é uma declaração de amor às Testemunhas de Jeová.
Os “desertores”
(1:26) Jamais devemos dar atenção a desertores;
Por que algumas TJs preferem não mostrar o rosto? |
Mas quem as denunciam? Como são identificadas? Isso nos
remete a outra declaração do youtuber, que discorre sobre Testemunhas de Jeová
infiltradas em religiões evangélicas:
(16:35). Desde os tempos dos apóstolos já existiam apóstatas infiltrados no povo cristão. E hoje não é diferente. Mas agora eu lhe pergunto: o verdadeiro cristão é aquele que está infiltrado na religião falsa? Você já viu alguma Testemunha de Jeová infiltrada nas igrejas evangélicas? Você já viu o anjo de Jeová infiltrado entre os demônios a fim de desmascarar Satanás? O que é mais provável? Não é o contrário? Não é Satanás que se infiltra na organização de Jeová? Se os apóstatas são portadores da verdade e as Testemunhas de Jeová são falsos cristãos, uma seita, por que é que nós não infiltramos ninguém em nenhuma religião que existe, mas eles fazem questão de apostatar e se manterem infiltrados na nossa organização?
Depois deste argumento claramente insustentável, o
apologista fica tão convencido de sua sabedoria que cobra aplausos para si
mesmo, num gritante desacato a Provérbios 3:7, que alerta contra tornar-se
sábio aos próprios olhos.
Aplausos pra mim! Mais,
mais, mais...
|
A atitude de Testemunhas, até mesmo do alto escalão, de se infiltrarem entre os “apóstatas” para
identificar “fugitivos” não é nada típico da religião verdadeira – e é muito
mais grave do que infiltrar-se nas religiões evangélicas.
‘Ouça apenas a nossa versão’
Que suprimir a versão dos “apóstatas” é prática antiga da
Torre de Vigia, isso não é novidade. Mas abordo isso aqui para salientar que o
youtuber, a despeito de dizer que “a verdade é lógica”, descarta a lógica
sempre que isso convém a ele.
(1:26). Jamais devemos dar atenção a desertores.
(6:38). Se você tivesse que fazer uma pesquisa sobre judeus, confiaria nas informações vindas de um site nazista? Ou se vivesse no primeiro século e quisesse obter informações sobre Jesus, perguntaria pra quem? Pros fariseus ou pros discípulos de Jesus? Da mesma forma, como poderia confiar em informações que vêm de sites ou páginas de pessoas que odeiam as Testemunhas de Jeová? Qual a chance de eles serem imparciais? Não deveriam ouvir o que as próprias Testemunhas de Jeová têm a dizer?
(21:40). Todos nós temos dúvidas; a dúvida faz parte da vida, mas não é num site apóstata que você vai sanar as suas dúvidas. A internet é um campo muito perigoso para se pesquisar sobre essas coisas.
Na introdução deste artigo
citei Provérbios 18:17, que sinaliza a justiça de se ouvir os dois lados de uma
questão; a própria Torre de Vigia cita esse versículo para dizer que um ancião
não pode tomar partido do primeiro que lhe apresenta uma causa, embora descarte
essa sabedoria sempre que o assunto é os “apóstatas”. Como os ativistas são desacreditados pela
Torre de Vigia, é apenas natural que as Testemunhas sejam temerosas de se
informar sobre o que dizemos a respeito de sua liderança. No entanto, o bom
senso no mínimo deveria fazê-las se questionar sobre por que o Corpo Governante
não quer que elas ouçam a versão dos “apóstatas”. O argumento de que, caso alguém queira se
informar sobre os judeus, ou sobre Jesus Cristo, não é consultando seus
inimigos que se saberá a verdade, faz todo sentido – mas apenas se o
pesquisador restringir-se a ouvir apenas os inimigos. Nós, os “apóstatas”, não
pretendemos sermos os únicos a serem ouvidos. É o Corpo Governante que tem essa
postura e quem tira conclusões por ouvir apenas uma parte – a da autoridade
religiosa – deve admitir que não está agindo com a sabedoria recomendada no
provérbio citado no início deste parágrafo.
O apologista também questiona
sobre quais as chances de sermos imparciais. A imparcialidade definitivamente
não é uma coisa que as Testemunhas devem esperar dos “apóstatas”. Nós, os
“apóstatas”, no parecer da Torre de Vigia, somos os agentes de Satanás; e Satanás,
evidentemente, não tem a imparcialidade como uma de suas qualidades. É do Corpo
Governante que as Testemunhas devem esperar imparcialidade e, no entanto,
quando esta imparcialidade foi esperada, a autoridade religiosa falhou
miseravelmente. Apenas para citar um exemplo recente, tomemos o Caso Austrália
e o Caso Rússia. As Testemunhas sabem do Caso Rússia com uma imensa quantidade
de detalhes – tudo graças à grande cobertura que fez o site JW.ORG; quanto ao
Caso Austrália, onde até um membro do Corpo Governante foi “arrastado” para
depor no tribunal, até a presente data, tendo se passado mais de dois anos,
absolutamente nada consta no site JW e em nenhuma outra publicação que seja de
acesso público.
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Finalmente o youtuber, depois
de dizer que ‘não é num site apóstata que as Testemunha vão sanar suas
dívidas’, afirma que “a internet é um campo muito perigoso para se pesquisar
sobre essas coisas”. Comumente escutamos
esse tipo de alerta vindo de pais ou profissionais que estão preocupados com o
risco a que crianças estão expostas quando acessam a internet. Assim, que ideia
o apologista passa a respeito das Testemunhas de Jeová, quando parece
considerar que elas são muito ingênuas ao ponto de que são incapazes de
concluírem por si se uma determinada informação vinda de “apóstata” é
verdadeira ou falsa? É verdade que o conceito do apologista é o mesmo conceito
do Corpo Governante e aqui cabe umas perguntas:
Qual a natureza das possíveis
dúvidas que uma Testemunha poderia ter ao ler um site apóstata?
Se forem dúvidas em razão de
serem pessoas ingênuas, incapazes de tirarem conclusões corretas ao tomarem
ciência dos dois lados da questão, qual a garantia de que igualmente não são
Testemunhas apenas por serem pessoas ingênuas?
Por outro lado, se forem
pessoas com boa capacidade analítica, e ainda assim passarem a ter dúvidas a
respeito de suas crenças, não será em razão de que a doutrina que se lhes
ensinou por anos não suporta a uma boa análise crítica?
Diante disso, cabe-me novamente concluir
que exigir ser o único a ser ouvido numa controvérsia tão séria quanto essa não
é nada compatível com a postura que se pode esperar da religião verdadeira.
Nenhum caminho melhor...
(4:08) [Os apóstatas] não apresentam nenhum caminho novo melhor a seguir, apenas um caminho a parar de seguir
(4:34). Você não acha estranho que o único objetivo deles seja fazer você deixar de ser Testemunha de Jeová, mas eles não estão nem um pouco interessado para onde você vai depois?
(5:39). Não seria de esperar que eles saíssem para o mesmo destino? Ora, não são eles os portadores da verdade, aqueles que elucidam as Testemunhas de Jeová? Que luz é essa, que divide e que não une?
Esse é o típico argumento
espantalho combinado com a falácia da generalização precipitada.
Mas não, nós deixamos de ser
Testemunhas, não porque encontramos um caminho melhor ou porque somos
“portadores de verdades”(argumento espantalho), mas o fizemos porque
descobrimos que as “verdades” que a religião TJ nos vendeu eram, em grande
parte, ensinos falsos, sendo que muitos deles foram depois descartados pela
própria liderança TJ. É verdade que muitas ex-TJs encontraram depois um
“caminho” melhor, que costumam chamar de Cristo, e o servem sem uma organização
intermediária, pois acreditam que Ele, e somente Ele, é “o caminho, a verdade e
a vida”, e que nunca foi necessário pertencer a qualquer denominação religiosa que
se autodenomine “arca da salvação”. Outros,
depois de reencontrarem o equilíbrio emocional, decidiram viver sem religião,
considerando-as desnecessárias em suas vidas.
Em quaisquer dos casos, deixar
de ser Testemunha de Jeová foi uma libertação em muitos sentidos. Famílias antes desfeitas, em razão de os
parentes não-TJs serem descartados como má associação apenas por serem
“mundanos”, foram depois unidas, readquirindo a unidade e fraternidade de uma
família normal. Estudos, carreira, casamento, filhos, mais tempo para lazer com
a família, mais cuidado com a saúde... Vida com qualidade, em termos simples,
foi a recompensa indescritível para a maioria daqueles que deixaram de ser
Testemunhas de Jeová – independente de se esses foram para a religião A, B ou C
ou se decidiram viver sem religião. O destino,
por isso, se é que pode ser definido algum, parece ser tão simples como deixar
de ser Testemunha.
Não surpreende, portanto, que os
“apóstatas”, de modo geral (porque generalizar é quase sempre inadequado), não
apresentam um “caminho” à TJ que desperta de sua crença; convencendo-se de que
a sua religião não é, e nunca foi, a “verdade”, a Testemunha é deixada livre
para decidir que rumo tomará no que diz respeito à sua fé, assim como nos
acusou o apologista:
(4:45) Percebam que eles não dizem pra você se você deve ser ateu, evangélico, umbandista, macumbeiro, muçulmano; enfim, eles não estão nem aí para o que você vai fazer depois...
Longe de isso ser uma insensatez,
isto é, tirar a Testemunha de sua fé sem oferecer a ela nenhuma religião
melhor, consideramos isso uma grande virtude, pois deixar que alguém escolha
por si só que caminho seguir é, pois, uma das maiores liberdades, que é assegurada
inclusive na Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo XVIII:
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
É a religião das Testemunhas
de Jeová que se apresenta como um “caminho melhor”, apesar de que, por mais de
um século, muito de suas doutrinas e regulamentos têm-se revelado ser puramente
ideias humanas, com efeito trágico na saúde e no emocional de muitos milhares
de pessoas, inclusive com consequências fatais. Tirando-se as doutrinas
exclusivas, falhas, tais como a data de 1914, o uso sistemático do nome Jeová,
a pregação de casa em casa, o ostracismo imposto a ex-membros e a política impositiva do sangue, a religião TJ torna-se uma religião comum, pois
praticamente todas as demais doutrinas são compartilhadas por várias outras
religiões. Visto por essa ótica, a religião TJ, a despeito do que diz, é na
verdade um caminho pior, não um “caminho melhor”; quando compreendemos isso,
fica claro que conscientizar as Testemunhas dessa realidade é uma grande
responsabilidade moral, embora sair da religião seja uma decisão deixada a
cargo delas próprias.
Ataques Ad Hominem
Quando apresenta as supostas
motivações para a nossa atividade “apóstata”, o youtuber não economiza nos
ataques Ad Hominem.
(3:15) Todos eles têm o mesmo espírito: o que os movem é ódio à organização. Não seu amor a deus ou ao próximo.
(3:24) Os motivos podem ser variados, mas em resumo é o seu descontentamento pessoal, talvez rixas carnais, orgulho, falta de fé e conhecimento também, um pecado grave que cometeram, necessidade de destaque, chamar atenção, vitimismo.
(3:58) [Eles possuem] um único objetivo: difamar as Testemunhas de Jeová e a sua organização, desviando o foco das pessoas interessadas no ensino de Jeová... Qual é o objetivo deles? Enfraquecer a sua fé em Jeová e na sua organização, seja os estudantes ou aqueles que estão se achegando à organização, e nada além disso, pois não apresentam nenhum caminho novo melhor a seguir, apenas um caminho a parar de seguir.
Não há muito o que dizer a
seguir, senão afirmar que os ataques possuem a mesma natureza dos ataques a
Carlos Fernandes, conforme mostrado anteriormente. Esses ataques vindos do youtuber
acaba por contrariar a sua própria afirmação de que o anonimato lhe preserva de
ataques Ad Hominem. Como se vê, sem se dirigir a nenhum “apóstata” por nome,
ele comete a mesma falha que julgou ser possível apenas quando se sabe a
identidade de alguém. Isso evidencia, portanto, que a sua terceira
justificativa para não revelar a identidade não tem mesmo nenhum fundamento. E
mesmo que todas as acusações feitas pelo youtuber fossem verdadeiras, isso por
si só não eliminaria a necessidade de contestar primeiro as afirmações dos
“apóstatas”. Uma afirmação nunca é
provada falsa apenas porque quem a faz está motivado por vingança, orgulho,
falta de fé ou falta de conhecimento, por querer destaque ou por qualquer outra
razão.
Nações Unidas
Depois de atacar os
“apóstatas” – algo erradíssimo para quem se deixa guiar pelos princípios que
regem a boa argumentação –, o youtuber tem a oportunidade de provar que os
“apóstatas” são mentirosos quando acusam a sua liderança, a Torre de Vigia, de
ter-se filiado a um órgão político e de acobertar pedófilos com sua política
das duas testemunhas.
Depois de candidamente admitir
que a
Torre de Vigia realmente esteve ligada às Nações Unidas (veja minuto 17:50 do vídeo), o youtuber continua:
(8:37) A ONU possui informações em nível mundial; e a Organização das Testemunhas de Jeová também é mundial. Seria essa a ligação? Se ela se desligou, provavelmente é porque em algum momento aquilo que motivou a filiação já havia cumprido seu objetivo. Muitos documentos e filiações em órgãos públicos são feitos pela organização ao redor do mundo. Ela não informa todos esses documentos em suas publicações e isso não significa que tais filiações sejam secretas.
Antes de tudo, é preciso
esclarecer que a ONU não é um simples “órgão governamental”, como algum
Ministério da Fazenda ou Ministério do Meio Ambiente, onde a Torre de Vigia
evidentemente, para o bom exercício de sua atividade religiosa, teria de
assinar acordos diversos.
Esse esclarecimento é necessário
porque é isso que dar a entender o seguinte questionamento do apologista:
(8:19). Como seria possível que uma organização religiosa mantivesse ligação secreta com algum órgão governamental?
A ONU, em termos gerais, é um órgão político, criada primariamente
para o fim de resolver disputas políticas entra as Nações coligadas. Que uma associação da Torre de Vigia com as
Nações Unidas é inaceitável, segundo os próprios critérios da Torre de Vigia, é
que, por ocasião do rompimento do acordo por parte desta, em 2001, foi alegado
incompatibilidade de interesses, a respeito dos quais a Torre de Vigia alegou
ter tomado conhecimento apenas naquela ocasião. Documentos emitidos pela ONU
dão conta de que a Torre de Vigia estava a par de tudo desde o começo. E toda a literatura da Torre de Vigia, nos últimos 100 anos, mediante o seu desprezo para com a extinta Liga das Nações e sua sucessora, é prova mais do que suficiente de que a ONU é um órgão político.
Será desnecessário que eu
entre em detalhes sobre o Caso Nações Unidas, uma vez que sobre isso há farta
informações na internet; aliás, este assunto é outro caso que testou a suposta
imparcialidade da Torre de Vigia. Para as Testemunhas que quiserem saber mais a
respeito desse assunto, será frustrante constatar que nada disso consta nas
fontes de sua confiança, como no site JW e no Wachtower Library. Isso porque,
mesmo depois de 17 anos que essa relação secreta foi exposta na imprensa
internacional, a estratégia adotada foi sempre a mesma: não tratar desse
assunto em publicações de acesso geral às Testemunhas, mas manter nas filiais uma resposta-padrão, para ser enviada a cada Testemunha que faça pergunta sobre
o assunto. O youtuber, no entanto, vai
na contramão de sua liderança e não tenho dúvidas de que muitas Testemunhas,
depois de ouvirem isso, foram digitar “ONU” e “Jeová” em famoso indexador da internet – embora, nesta parte do vídeo, ele tenha tido o cuidado
de dirigi-las para outras páginas apologistas, que, igualmente, não ligaram, ou
não sacaram qual a estratégia da Torre de Vigia.
Depois o youtuber acrescenta:
(9:18) O que essa pessoa [apóstata] realmente sabe sobre o [caso Nações Unidas]? Será que ela estava lá? Será que ela conhece as pessoas que fizeram a filiação pessoalmente? E sabe quais são as reais intenções das pessoas?
Iguais perguntas podem ser
feitas ao youtuber; se as respostas dele forem negativas, isso significa que
ele e nós, os “apóstatas”, estamos na mesma situação, tendo apenas a opção de escolher
em quem acreditar. Se esse é o caso, cabe à Testemunha que investiga o assunto
se acercar do maior número possível de informações e, neste respeito, o site indicitj contém uma coletânea de artigos, que, se não forem conclusivos para o
pesquisador, no mínimo lhe dará um norte para seguir com suas pesquisas.
Por fim o youtuber, levantando
a possibilidade de que a ligação da Torre de Vigia com a ONU possa ter sido um
erro, incentiva a Testemunha a se questionar:
(9:34) O que essa acusação vai interferir nas minhas crenças? Agora Jeová é uma Trindade. Agora Jeová não é o nome de Deus. Já sei: o negócio da ONU faz com que o inferno seja real. Agora a alma se tornou imortal.
Esse é um argumento usado pela
própria Torre de Vigia. Por vezes, a Torre de Vigia já fez referências a seus
erros passados, como levantar falsas expectativas a respeito de um fim tão
próximo, até mesmo fazendo referência a certas datas. Apesar de que esses
erros, no final das contas, foram flagrantes mentiras religiosas, a Torre de
Vigia prefere chamá-los de “equívocos” e exige das Testemunhas que assim os
encarem. A Torre de Vigia, por sua vez,
não aplica esse mesmo critério ao membro que sucumbe às fraquezas da carne,
exigindo dele que se declare arrependido para que não seja julgado como impenitente
e expulso da congregação. O arrependimento é exigido até mesmo de quem aceita
uma transfusão de sangue ou de quem passa a apoiar um partido político. A esse
não importa se continua considerando como verdadeiras todas as doutrinas da
religião. Importa unicamente se está arrependido do “pecado”, muitas vezes, de
tentar desesperadamente salvar a própria vida.
O argumento do apologista
também é provado falho por outro motivo: o Caso Nações Unidas nunca foi a única
acusação que se fez contra a Torre de Vigia; mesmo antes de esse caso vir à
tona, muitas doutrinas da Torre de Vigia já eram expostas como biblicamente
indefensáveis, a exemplo da doutrina referente à data de 1914 e as afirmações
decorrentes dela, como a garantia profética referente à ‘geração que não passaria’. Esse único erro, o de 1914,
põe por terra todo o arcabouço doutrinário que sustenta a aclamação de que as
Testemunhas de Jeová são a única religião verdadeira e a única que é guiada
diretamente por Deus. Sem esse suporte,
as afirmações feitas por sua liderança a respeito das demais doutrinas, como a
defesa do uso sistemático do nome Jeová, a negação da Trindade, a pregação de
casa em casa e a condição dos mortos – todos esses conceitos, sejam eles
verdadeiros ou falsos, devem ser
encarados apenas como as opiniões de um grupo religioso bem-intencionado e nada
mais.
Pedofilia
Ao tratar desse assunto, o youtuber mais uma vez volta-se para os “apóstatas” e aponta-lhes o que seria
contradições nos requerimentos que fazem.
Começa trazendo para a questão
o assunto ostracismo, a respeito do qual queixa-se de que acusamos a Torre de
Vigia de ser rígida demais; depois,
referente a pedofilia, diz que acusamos a sua liderança de ser branda demais. Mas afinal, o que queremos? Dureza ou brandura? Pergunta isso como se rigidez e brandura
fossem terminantemente incompatíveis, como se uma pessoa, ou mesmo uma
religião, não pudesse ser rígida em alguns aspectos e branda em outros. Em meu
blog nunca questionei a legitimidade da excomunhão; ela é bíblica e a Bíblia
condena adultério, fornicação, homossexualidade e muitos outros pecados. A
igreja que segue a Bíblia evidentemente tenderá a excomungar do seu meio
aqueles que praticam tais pecados. Isso é esperado e é compreensível. Mas o
ostracismo imposto pelas Testemunhas de Jeová aos ex-membros, conforme
especifica sua liderança, não tem nenhum fundamento bíblico. Daí a acusação de que a Torre de Vigia é rígida demais –indo além do biblicamente
aceitável – para com os ex-membros.
Quanto a pedofilia, é verdade
que a regra de duas ou três testemunhas é bíblica; no entanto, no que se refere
a crimes sexuais, que geralmente é praticado às escondidas, apenas a palavra da
vítima é aceitável como prova (Deuteronômio 22:23-27). Além do mais, em muitos
casos de pedofilia há outros fatores circunstancias envolvidos, como traumas
emocionais e evidências testemunhais de que acusado e vítima, estiveram, por
vezes, em circunstâncias em que o encontro foi possível. Apesar disso, a Torre de Vigia permanece irredutível na sua regra das duas Testemunhas, preferindo cuidar internamente de cada caso de pedofilia. Como a regra é perdoar o abusador em caso de se notar arrependimento, isso tem resultado em se deixar abusadores livres nas congregações apenas para esses continuarem os abusos, como ilustra o caso Candace Conti. Relacionado a esse assunto, há vários casos de abuso
sexual infantil que chegaram aos tribunais ou que tiveram seus trâmites legais iniciados, mas que, por intervenção da Torre de Vigia, tudo acabou em acordo
financeiro entre as partes, como conta Barbara Anderson em sua autobiografia. Tendo em vista tudo isso aqui exposto, parece-me
evidente que o interesse da Torre de Vigia é manter limpa a sua imagem – ainda
que isso resulte em muitos casos de pedofilia ficarem impunes ou em vultosas somas
de dinheiro de donativos passarem às mãos de grandes escritórios de advocacia. Dizer
que é branda a norma da Torre de
Vigia sobre como lida com casos de pedofilia, não me parece o termo correto. Eu
diria que ela é muito imoral, ainda em se tratando de uma religião que se porta
como a única verdadeira.
Por fim, ainda a respeito deste
assunto, o youtuber diz que acusamos a Torre de Vigia de ter feito mais de 300
mudanças em suas doutrinas, mas que, por outro lado, também a acusamos de não mudar a regra de lidar com casos de pedofilia. Novamente, para a
infelicidade do apologista, a contradição apontada, ainda que possível de
existir, não se fundamenta se avaliada cada acusação por seus próprios méritos.
Eu posso me queixar de um amigo
que troca de camisa várias vezes por dia, dificultando que eu o reconheça de
certa distância, quando o vejo em intervalo de apenas algumas horas; mas também
posso queixar-me de que meu amigo está há várias semanas sem trocar de meias.
As minhas queixas são a respeito da frequência com que meu amigo troca de
vestimenta, mas, por versarem sobre diferentes peças de roupa, minhas queixas devem
ser avaliadas cada uma por seus próprios méritos e não englobadas num único pacote;
isso é o que faz o apologista quando junta num só pacote as queixas dos
“apóstatas” quanto à frequência com que a Torre de Vigia faz mudanças
doutrinárias – quando na verdade as queixas versam sobre assuntos bem
diferentes.
Finalmente o youtuber
apresenta um primeiro e único argumento para negar a existência de pedófilos
entre as Testemunhas de Jeová.
(12:49). Sua experiência pessoal como Testemunha de Jeová deixa claro que isso é apenas calúnia. Afinal, quantas Testemunhas de Jeová você conhece que são acusadas de pedofilia?
Faz alguns anos que não
frequento o Salão do Reino, por isso permito-me
perguntar se atualmente por lá vigora a regra de que pedófilo tem que portar
crachá que o identifique como pedófilo.
Piada à parte, deixemos claro que os
anciãos jamais irão à tribuna anunciar ao microfone que o irmão fulano ou a
irmã beltrana é praticante de pedofilia. Mesmo que subam à tribuna para
anunciar uma desassociação, jamais será dito por que tal pessoa está sendo
punida. Segundo a orientação mais recente enviada aos anciãos, que consta em uma
carta datada de 1º de agosto de 2016, somente em casos de pedófilos em processo
de reabilitação, seja batizado ou não, é que os anciãos, ‘em alguns casos,
podem informar aos pais de filhos menores sobre a necessidade de monitorar o
contato de seus filhos com determinada pessoa’. Nem mesmo nessa ocasião os pais
são avisados de que fulano de tal ou beltrana de tal é praticante de pedofilia.
Portanto, caro apologista, reavalie seu argumento de que o fato de uma
Testemunha não conhecer uma só TJ que seja pedófilo pode ser tomado como prova
de que nenhum TJ dentre seus irmãos é pedófilo.
Vidas úteis, vidas inúteis
(13:15) Cristãos de verdade possuem vidas úteis. Apóstatas possuem vidas inúteis. Por exemplo, existem apóstatas que dedicam as suas vidas pra tentar mostrar “pras” pessoas que o que nós fazemos é contra o que a Torre de Vigia ensina; como se isso fosse problema deles!
(13:37) A vida deles é tão inútil, tão sem sentido, igual a de Satanás, que eles se dedicam a uma causa com a qual eles não têm nenhuma responsabilidade. Eles não são mais Testemunhas de Jeová e eles dedicam a vida pra tentar mostrar pras pessoas que aquilo que o grupo a verdade é lógica faz na internet é contra a Torre de Vigia. Mas eles não são mais membros da Torre de Vigia, portanto isso não é da conta deles!
(14:49) Ele não é mais membro da Torre de Vigia, mesmo assim ele liga pra a Torre de Vigia a fim de tentar pegar uma informação que nos coloque contra ela.
Mais uma evidência de que desconhecer
uma identidade não impede ataques Ad Hominem. Um nome fictício – Carlos, por exemplo – é
suficiente. @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@
...E os ataques continuam:
(15:15). Verdadeiros cristãos possuem vidas úteis ou vidas inúteis? ... quando um cristão sofre uma decepção, o que ele deve fazer? Viver de passado igual a museu? Ou construir um futuro diferente? E não precisa nem ser cristão para isso, é só ser um bom ser humano ...será que eles são bons seres humanos? Imagine que você more num um país, numa localidade que foi devastada por um desastre natural e você e várias pessoas perderam suas casas; mas graças aos apóstatas que formaram um grupo de caridade para socorrer especialmente todos aqueles que abandonaram a organização das Testemunhas de Jeová, agora você tem ajuda humanitária .... Não, meu amigo, isso não vai acontecer; sabe por quê? Porque a vida deles é inútil, não útil.
Quais são os critérios para se
determinar que a vida de alguém é inútil? Existe apenas o critério de ajuda
humanitária? Eu poderia listar aqui vários critérios que colocaria as
Testemunhas de Jeová como pessoas inúteis, mas citarei apenas um: o critério da doação de sangue. Todo ano milhares de vidas – inclusive de Testemunhas – são salvas porque “bons seres humanos” fizeram a imensa caridade de doar sangue. Mas esta caridade as
Testemunhas de Jeová não fazem, pois é contra as regras do Corpo
Governante.
É justo determinar que a vida
de alguém é inútil por um único critério? Definitivamente não é. As Testemunhas
de Jeová não doam sangue e isso é uma decisão que precisa ser respeitada. No
entanto, elas, como grupo, são bons seres humanos, apesar de as incontáveis
regras farisaicas do Corpo Governante acabar por desgraçar a vida de grande
parte delas.
Quanto a ajuda humanitária, é
preciso verificar se é realístico a formação de um grupo de ajuda humanitária,
composto de “apóstatas”, para socorrer ex-TJs que sofrem calamidades. Levando em conta apenas números do Brasil,
sabe-se que em 2009 havia cerca de 690 mil Testemunhas de Jeová ativas. Desde
2010 até 2016 foram batizadas cerca de 204 mil novas Testemunhas, o que deveria
elevar o número de TJs para cerca de 895 mil membros. No entanto, em 2016, segundo
o anuário de 2017, havia cerca de 85 mil membros abaixo do esperado.
Considerando que uma pequena porcentagem disso é devido a falecimentos, ainda é
possível afirmar que nesse pequeno período mais de 80 mil Testemunhas
encerraram suas atividades de pregação. Seja lá quais foram os motivos, não é
nada razoável esperar que os “apóstatas” em atividade, que se restringem,
talvez, a uma ou duas centenas, socorram todas as ex-TJs que sofram alguma
calamidade.
*****************
Por agora faz-se necessário abrir um parêntese para tratar da seguinte declaração do apologista, quando ele considera a possibilidade de uma TJ deixar a organização e dedicar-se sozinha a um ministério de pregação:
(6:17) Não, você não terá tempo para pregar sobre Deus porque a sua vida se resumirá durante 24 horas em criticar a organização de Jeová.
Como
os números indicam, apenas uma pequeníssima porcentagem de ex-tjs dedicam-se a
expor os erros da Torre de Vigia; quase que a totalidade, portanto, quer
ingressem em outra religião, quer não, passa a viver sua vida sem qualquer
relação com a Torre de Vigia. Em vista dessa constatação, nota-se que as
palavras do apologista servem ao único propósito de causar terrorismo e inibir
a que TJs deem qualquer passo em direção à liberdade.
***************
Existe, porém, outras formas
de prestar ajuda humanitária de forma significativa, sem que seja por meio de
um grupo formado exclusivamente por “apóstatas” e para atender pessoas
predeterminadas. Basta que cada pessoa,
seja “apóstata” ou não, ajude o seu vizinho.
Neste respeito conto aqui um
incidente da minha vida, que testou muito a disposição das Testemunhas em
prestar ajuda humanitária. Há quase 20 anos, quando eu morava só e estudava à
noite, a minha casa foi roubada. Levaram alguns bens, roupas e toda a compra
que fiz para o mês inteiro. Nessa época eu ganhava muito pouco, apenas o
suficiente para o consumo e minha situação como TJ não era das melhores. Devido
a alguns problemas de relacionamento com um ancião de outra congregação, eu
acabei ficando numa fase de inativo. Então, nessa situação e depois de sofrer
esse golpe, uma vizinha TJ foi até os anciãos e perguntou a eles se a
congregação ia me ajudar. Ela ouviu deles que nenhuma ajuda seria prestada,
pois eu não era uma Testemunha exemplar.
Para quem não sabe, as
Testemunhas de Jeová possuem alguns critérios para determinar quem, dentre seus
membros, está qualificado para receber ajuda humanitária. Mesmo em casos de
refugiados, a política de seleção deve ser posta em prática, como foi declarado
em um recente artigo da revista A Sentinela.
Nas revistas da Torre de
Vigia, é comum aparecer matérias sobre ajuda humanitária prestada por
Testemunhas a seus irmãos de fé, mas quase que unicamente quando sofrem alguma
calamidade devido a desastres naturais. Em alguns casos, até pessoas “mundanas”são ajudadas pelas equipes de socorro das Testemunhas de Jeová. Não há nada de
errado nisso. Se as equipes de socorro estão em condições de ajudar, seria
incompreensível que não o fizessem. No
entanto, para mim é muito desconfortável saber que pessoas “mundanas” estão
sendo ajudadas, mas Testemunhas de Jeová que sofrem reveses do tipo que sofri
são deixadas à míngua apenas porque não são “exemplares” – e sem contar que
essas mesmas Testemunhas, agora deixadas à própria sorte, contribuíram
financeiramente para as obras de caridade da Torre de Vigia! Que explicação há
para isso? Pode-se deduzir alguma? O que
você deduz?
Mas este relato não pode
terminar de forma triste. No dia seguinte ao roubo em minha residência, fui à
delegacia e fiz um Boletim de Ocorrência. Depois disso, alguns dias depois,
quando cheguei à sala de aula, fui surpreendido por meus colegas que me doaram
duas caixas de alimento além de uma boa quantia em dinheiro, quase equivalente
ao que eu ganhava em mês de salário. Tudo isso aconteceu porque um dos meus
colegas de classe era soldado e lera o BO que fiz; comovido com a minha
situação, ele mobilizou os demais colegas para me prestar aquela grandiosa
ajuda humanitária. O que os moveram a me
ajudar? Bem, éramos quase todos recém-chegados à fase de adultos; pelo que
lembro, meus colegas eram de maioria católica, havia dois ou três evangélicos e
um era maçom. Nenhum deles era Testemunha de Jeová. Não estou certo de que me ajudaram motivados
por algum espírito humanitário cultivado por suas crenças. Nenhum deles parecia ser
religioso praticante e nenhum deles, mesmo depois disso, fez qualquer esforço
para me converter a qualquer outro credo. Parece-me certo concluir que me
ajudaram pela única razão de que eram “bons seres humanos”.
E é neste ponto que quero
chegar. Não há necessidade de que os “apóstatas” formem grupo de caridade para
prestar ajuda humanitária a ex-membros das Testemunhas de Jeová. Por não ser
realístico, dados os números apresentados, basta que cada pessoa, seja “apóstata”
ou não, esteja disposta a ajudar o próximo quando surgir a oportunidade. Depois
que se deixa a organização das Testemunhas, não é de praxe checar
filiação religiosa para determinar se essa ou aquela pessoa está qualificada para
receber ajuda humanitária. O fato de não se ver nenhuma matéria nos jornais a
respeito de ajuda humanitária prestada por “apóstatas” não pode ser tomado como
prova de que não o fazem. E é muito evidente que um único critério – o da ajuda
humanitária – não pode ser tomado como base para se determinar se uma vida é
útil ou inútil. Muitas vezes tudo depende das circunstâncias. Alguém pode ser
conhecido por prestar ajuda humanitária, mas a sua existência, em um dado
momento, é inútil se alguém precisa desesperadamente de sangue e o
humanitarista, em razão de princípios religiosos, nega-se terminantemente a
salvar uma vida.
Se está nas publicações, então
não é secreto
(18:30). Você sabia que a maioria das acusações dos apóstatas relacionadas à organização já foram respondidas nas próprias publicações?
(19:25) Os apóstatas simplesmente vomitam por diversas vezes os mesmos argumentos e os ataques de sempre”...Nos próprios livros da organização nós vemos como ela explica as mudanças que ocorreram no povo de Jeová, o que se pensava anteriormente, como se pensa agora. Mas o que é que os apóstatas quem fazê-lo pensar? Eles querem fazer você pensar que eles têm segredos que a associação não conta para você. Mentira! Todas as mudanças que tivemos nos nossos ensinos estão presentes nas nossas próprias publicações. Mas eles não dizem isso. Eles fazem você pensar que eles têm um segredo que está guardado a sete chaves e que eles são os portadores e iluminadores das verdades. Sendo assim, você não precisa se surpreender caso alguém um dia lhe mostre um livro contendo mais de quinhentas mudanças feitas pela Associação Torre de Vigia, até porque o antídoto pode ser que venha junto com a acusação, pois certamente eles lhes mostrarão essas coisas nas próprias publicações; ou seja, não é algo oculto, nem secreto, está lá para quem quiser ver. Seria algo simplesmente inútil, sem propósito, uma demonstração evidente de desespero demoníaco. Reflita: Se a informação está nas nossas próprias publicações, não há nada de escondido, não há nada de errado. São apenas fatos passados, que devem ser entendidos de acordo com a época em que cada matéria foi publicada. Esse tipo de acusação simplesmente não faz sentido.
É verdade que as mudanças
doutrinárias da Torre de Vigia estão registradas em sua literatura. Mesmo
porque não podia ser diferente. Seria preciso uma caça e queima de livros
típica do tempo da Inquisição para que tal literatura, por agora, não estivesse
à disposição para pronta consulta.
Mas cadê a literatura? Quantas Testemunha de Jeová espalhadas pelo mundo
inteiro tem os livros do tempo de Russell e da época de Rutherford, todos eles
em seus próprios idiomas?
O apologista cita o livro Proclamadores do Reino como prova de que
a Torre de Vigia não tem nada a esconder sobre seu passado. No entanto, quando
se examina esse livro com conhecimento dos fatos, a verdade é outra. Os autores
do livro Proclamadores, muito provavelmente
cientes de que pouquíssimas Testemunhas iriam checar os fatos, procuram
amenizar todos os erros da religião, distorcendo uns assuntos e omitindo
outros, como pode ser visto aqui e aqui.
Contrário ao que se possa
pensar, o Corpo Governante não se sente nem um pouco confortável em ter a
literatura antiga circulando por aí. A autoridade religiosa até mesmo tem
tomado providência para que a sua literatura recente não caia em mãos erradas,
como pode ser visto no livro secreto Pastoreiem
o Rebanho de Deus, página 115 (veja ao lado):
E para concluir este assunto,
disponibilizo aqui duas coletâneas das mudanças doutrinárias da Torre de
Vigia. Estão em inglês, infelizmente, mas já é um grande passo, especialmente
para aqueles que são dissidentes ativos. Em plena era da informação é deveras
muito estranho que uma autoridade religiosa tão incisivamente lute para que o
seu passado seja conhecido, não pelos próprios documentos da época, mas apenas
pela sua versão do que de fato foi o seu passado. A depender dos zelosos
dissidentes, essa pretensão está fadada ao fracasso.
Pilares irremovíveis
(23:08). Também é bom você criar pilares para onde você poderá correr, se segurar, se apoiar, sempre que estiver exposto a algo que possa balançar a sua fé. Por exemplo, anote algo mais ou menos assim: umas 3 ou 5 coisas que o convença de que você está na verdade. Então sempre que se deparar com qualquer tipo de informação que o deixe desconfortável, recorra a esses pilares.
Minha
opinião é de que não pode existir pilares irremovíveis, não no que
diz respeito ao conhecimento. Pode ser que tenhamos um pilar sobre o qual
erguemos uma série de conceitos, mas depois, se verificarmos que os pilares já
não se harmonizam com novas informações devidamente comprovadas, então os
próprios pilares precisam ser removidos ou substituídos, não importam quanta
segurança eles nos produzam.
Por exemplo, por muitos
séculos o conceito de que a Terra era o centro do sistema solar foi um pilar
sobre o qual se ergueu uma série de outros conceitos a respeito dos demais
planetas e estrelas. Mas quando se acumulou informações que estavam em
desarmonia com o pilar, foi necessário substituí-lo por outro pilar mais compatível
com a realidade observada. É esse atual pilar irremovível? Aparentemente sim,
mas só o tempo dirá. Esta é a realidade quando se toma um pilar por
irremovível. A segurança que ele nos dá faz acreditarmos que ele é irremovível
– até que, a duras penas, sentimos a sua queda com a consequência de que pode
resultar em ruir todo o nosso castelo de ilusões.
A Torre de Vigia, desde os
seus primórdios, ergueu muitos pilares sobre os quais assentou várias de suas
doutrinas, mas ela própria tem decidido remover alguns pilares.
1874 foi um pilar que serviu
muito a Charles Taze Russell e até mesmo a Rutherford. 1914, por sua vez, é o
pilar principal da doutrina TJ e, no entanto, essa data é comprovadamente falsa.
Enquanto eu era TJ, tinha a pregação de casa em casa como um pilar primordial,
que estava sempre a me assegurar que a religião TJ era a única religião
verdadeira, pois somente as Testemunhas de Jeová pregam de casa em casa, assim
como ensina a Bíblia. No entanto, essa era apenas uma crença que me foi
ensinado. A Bíblia não aponta a pregação de casa em casa como sinal
identificador da religião verdadeira. Ela diz apenas que os cristãos devem
pregar, e a forma de fazerem isso pode ser variada. Por muitos séculos, as
igrejas evangélicas têm pregado em praça pública e mais recentemente através do
rádio, da TV e da internet. A pregação
de casa em casa, tal como feita pelas Testemunhas de Jeová, é cada vez mais
impraticável nas grandes cidades, onde os lares são cada vez mais inacessíveis.
Ela é prática ainda nos interiores e nas pequenas cidades, mas a população
nesses locais é bem reduzida. Isso, naturalmente, tem forçado a Torre de Vigia
a variar sua forma de pregação, e tem adotado gradualmente quase os mesmos
métodos de pregação há muito usados pelas igrejas evangélicas. Isso que
acontece com a religião TJ, portanto, é também um sinal de que um pilar, ainda
que nos forneça grande segurança, pode de fato não ser assim tão seguro e
talvez possa ser até mesmo uma armadilha. Essa é a minha opinião.
Vergonha ou medo?
(1:04). E agora? Se tudo isso for verdade? Como eu vou saber? Tenho vergonha de perguntar tais coisas a um ancião e revelar que eu tive contato com a apostasia.
(21:14). Não é preciso ter vergonha de pedir ajuda.
É até compreensível que um
aluno tenha vergonha de fazer perguntas ao professor, pois passará para os
colegas a ideia de que não foi capaz de entender uma explicação. Esse, porém,
não é o caso das Testemunhas de Jeová na situação colocada pelo apologista. A
Testemunha de Jeová tem medo, não
vergonha. Se ela tem sinceras dúvidas e
pesquisou o suficiente, então não será nada fácil para os anciãos responderem
às suas perguntas. Muitos anciãos, quiçá a maioria, nada sabem sobre o caso
Nações Unidas. E caso fiquem sabendo onde a Testemunha leu sobre isso, podem simplesmente dizer que é mentira dos apóstatas. Podem dizer isso com a
maior das sinceridades, pois assim foram doutrinados pelo Corpo Governante, e à
Testemunha podem dizer que ela cometeu um grave erro ao acessar sites ditos
apóstatas. Se a Testemunha já ouviu antes alguma reprimenda dessa natureza, então
ela dificilmente voltará a procurar anciãos para tratar de suas dúvidas.
Conclusão
O apologista conclui seu vídeo
com um oportuno texto bíblico:
A pessoa ingênua acredita em qualquer palavra, mas quem é prudente pensa bem antes de cada passo (Provérbios 14:15).
Quatro capítulos adiante
encontramos outro versículo de valor inestimável, que alerta contra levar a
sério o primeiro que lhe conta uma história.
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Caro amigo, já tinha lido a matéria do Carlos Fernandes e achei muito bem analisada, mas você também refutou o vídeo de forma brilhante! Acho que de qualquer forma, o tal apologista ainda ajudou a encontrar os pontos para se tecer os raciocínios e você os aproveitou muito bem. Se o Corpo Governante pudesse ver isso, acho que moveria céus e terra para identificar o tal defensor, que na verdade, só deu mais munição para os "Apóstatas", kkkkk Abraços!
ResponderExcluirE que munições!
ExcluirO Caso Nações Unidas principalmente. O Corpo Governante usa uma estratégia e ele usa outra.
Isso jamais pode dar certo.
Sobre questão de pilares, eu pensava assim quando fui TJ. Isso me lembra sobre o texto de Lucas 21:24 sobre os "gentios". Muitos se seguram nele como um prova de que Jerusalém começou a ser pisada em 607a.C (na data da torre) e que terminou em 1914. Esse intervalo de tempo para eles é a "prova" de que jesus falava desse tempo. O problema é que se lermos o texto com mais cuidado, veremos que Jesus falava do futuro. Pode olhar em qualquer tradução, mas só pra facilitar e mostrar que mesmo assim não percebem, na TNM mesmo diz assim: ...Jerusalém será pisada pelas nações até se cumprirem os tempos determinados das nações... Percebeu? Ele disse SERÁ pisada...até se cumprirem o tempo das nações. Mas "o tempo das nações" de fazer o que? Do que? De pisar Jerusalém. Quando começou esse pisar? No texto Jesus falou que AINDA iria ocorrer. Ele falava da destruição de Jerusalém. Fato histórico do ano 70d.C. O texto é simples e não tem nenhum mistério ou doutrina especial nele. Jesus só estava falando de Jerusalém sobre o seu FUTURO. E a mesma coisa com 1914 e geração em Mateus 24:34: Eu lhes garanto que esta geração de modo algum passará até que todas essas coisas aconteçam. Percebeu como que isso não pode ser sobre 1914? Olhe com mais cuidado e notará que Jesus falava da geração de pessoas que estavam vivendo aquele momento. Ele disse "esta geração". Nunca falou "daquela geração", foi "ESTA geração". Não tem mistério. Ele só falava da destruição de jerusalém e até orientou os Apóstolos para ficarem atentos sobre o dia e hora que eles mesmos não sabiam. Nem sempre quando se fala em terra, se refere ao planeta terra. Pode ser apenas uma região. Ler o relato de Mateus 24, Lucas 21 sob essa ocular pode ajudar a entender quão bizarro é esse ensino de tempos das nações, geração etc. Percebe como a Torre de Vigia cria doutrinas malucas, baseadas em medo e associando isso com tempo determinado simplesmente para manter alguém preso no grupo? Tenho até vergonha de ter acreditado nessas coisas. Mas sinto no íntimo uma certa felicidade por saber para me ajudar a pensar por mim mesmo.
ResponderExcluirUm chorrilho de mentiras que foi postado aqui neste blog inútil. Os "traumatizados" da "vil", "sinistra" e "demoniaca" "torre de vigia" são tão rídiculos e patéticos!!! O melhor a fazer é deixar esses autoproclamados "injustiçados", "silent lambs", "vítimas coitadinhas da torre" choramingarem aí pelos cantos!!!
ResponderExcluirTão coitadinhos que eles são!!! Eu tenho tanta pena destas "vítimas inocentes" da Torre!
Tão "inútil" que você vem aqui comentar depois de dedicar um tempo lendo. A sua conduta nada condiz com o que se ensina entre as TJ's. Você afasta as pessoas com a sua prepotência. Se quer ajudar e diz saber da verdade, use de forma a atrair as pessoas. Seja ela quem for. Você afasta. PS: Eu sou Testemunha de Jeová ativa e conheço o seu trabalho. Ah, antes que diga que não sou por estar aqui nesse blog lendo-o, lembre-se que aqui você está também. Ah, anônimo? Eu não tenho conta Google.
ExcluirCurioso é que sobre os "infiltrados" que se intitulam assim, apenas como referência ao estado em que estão, são pessoas que por várias razões pessoais ainda são consideradas TJ's. Nunca ouvi ou vi alguma pessoa que se diz infiltrado ser de fora da Torre de Vigia. Como uma pessoa católica, por exemplo, que fingiu estudar, se batizar e ainda é TJ apenas para se fazer de infiltrada. Esse cara que fica fazendo apologia para as TJ nem sabe do que fala. Ele pensa que é fácil ficar dentro de uma organização/empresa que destrói sua vida e família. Claro que ele se referiu aos ativistas que ficam falando contra as TJ. Mas na prática não é disso que ele fala. Ele apenas usou isso como artifício para atacar todos aqueles que deixaram a organização em sua mente e corpo, mas que ainda tem pessoas da família dentro. Ativistas tem em todo lugar e contra todas as religiões. Ele está muito centrado na ideia da Torre e pensa que só se fala mal das TJ's. É verdade que se fala mal dela, assim como se fala de outras. Mas a Torre é irrelevante diante da multidão de ativistas de outras religiões que se tem por aí. Só não é irrelevante para quem tem família dentro.
ResponderExcluirResumindo blog satânico, chega ser nojento um ser deste perder tempo em atacar a religião dos outros, O orgulho ambicioso revela a sua completa incompetência, pois desejam buscar novidades, mas a verdade nunca muda, apenas os métodos que são usados;
ResponderExcluir- As falsas doutrinas geram uma ideia de intelectualismo esnobe, geram mais discussões que ação (Falsas doutrinas sempre geram debates intermináveis e excluem a ação da fé);
- Exaltação ao ego do que a prática da humildade;
- Os falsos mestres não estão dispostos a aprender, mas querem ensinar;
- Apegados a dogmas sem conhecimento do que praticam.